Silki, o Faquir brasileiro
Quando eu
era menino havia um faquir.
Era um
faquir mesmo, com turbante e tudo. Lembro que ele uma vez ficou quarenta dias
jejuando. Ele não disse , mas hoje, quando vejo mais gente, sobretudo gente da
Lei, com vocação para faquir,
acreditando mais no jejum que na Constituição começo a ter a certeza que o faquir da minha infância
jejuava para derrubar o Juscelino da Presidência.
Não deu
certo , nem o
jejum, nem o
faquir, que sumiu depois disso. Soube
que apareceu anos mais tarde num cirquinho de pano de roda em Rio das Almas engolindo fogo e jejuando pela família hetero
top e contra a chegada do homem na Lua.
Hoje o
faquir de antanho dedica-se a provar com um power point que o homem nunca
chegou na lua, graças ao seu jejum.
Diz ele:
- Aquilo
tudo foi montado num estúdio de Hollywood. Meu jejum é poderoso. Muitas coisas
que jamais aconteceriam aconteceram só por causa do seu jejum.
Afirma que
graças ao seu jejum, e só o dele, de mais ninguém o papel higiênico passou a
obedecer as marcas de corte certinhas.
Que graças
ao seu jejum o óleo de soja substituiu a banha nas cozinhas de todo o País.
Também uma
vez foi chamado às pressas para jejuar e conseguir que o Chile desaparecesse e
a Bolívia chegasse até o Pacífico. Mas foi derrotado por um pão de mel que ele
não resistiu e comeu com o prazer orgástico de quem assedia uma galinha. A Bolivia sifu, derrotada pela
gula do faquir.
Jejum é
coisa séria. É praticado por povos de todo o mundo, como no Brasil, um antigo
País coim uma antiga civilização, ambos já desaparecidos, dizem até que era uma
tal Atlandida que foi submersa por um colossal tsunami de bosta de mulas e jegues.
Diz a lenda
que durante séculos o povo daquele extinto País jejuou, sobretudo os pobres, os
bem pobres eram então a maioria da população e fazia uma corrente nacional de
jejum cujo objetivo era aumentar a
riqueza e os bens e propriedades de meia dúzia de banqueiros e milionários que
ficavam ainda mais milionários. E o jejum deu certo, por séculos e séculos amém. Os ricos cada vez mais ricos
e os pobres felizes, cada vez mais pobres.
Até o dia em
que apareceu um falso messias e distribuiu comida para os pobres esfomeados que
não resistiram ao pão de mel de Garanhuns e comeram. Com a quebra do jejum os
ricos começaram a empobrecer.
Então contra
atacaram. Terceirizaram o jejum. Chamaram um bonitinho predileto de Deus para
jejuar por eles, já que eles mesmo não se metem em público a dizer asnices em
nome do Todo Poderoso.
O novo
faquir prometeu que seu jejum vai levar à prisão o falso messias, afirmou com
procuração passada no cartório da Uberlindia que Deus é apaixonado por causas
que metem na cadeia quem ousa lutar pelos pobres e oprimidos, pelos simples e
pelos humildes.
O faquir
afirmou que Deus também atende pelo codinome de Seu Coisa, às vezes seu
coisinha e é proprietário de uma rede de lojas varejistas que vendem roupas
femininas e para cama, mesa, banho e jejuns prolongados.
O novo
faquir fez estas declarações no domingo de Páscoa para mostrar ao Mundo seu
espírito cristão, caritativo e justo.
Sua próxima proeza será ascender aos céus numa nuvem rosa e pairar de braços
abertos em cima da Penitenciária da Papuda.
Mas isso já
será em outro jejum. Provavelmente depois de ter alta do Hospício Central da
Uberlindia.
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