23 abril 2018

O Inocente


A o fundo o sr. Karsteberg entre amigos, quando jovens.



O senhor Karstenberg era o que se podia considerar um homem honestíssimo.
E suas amizades sempre pautaram também pela suprema honestidade. Não entendia agora, já ancião, a prisão de seus mais íntimos amigos por corrupção nem a ameaça de abertura de seu sigilo bancário e de sua prisão pessoal.

Só podia ser uma infundada perseguição, dado o seu valor intelectual e o riquíssimo legado que deixaria para a Uberlíndia, outrora uma Nação e agora por culpa de outros apenas um pedaço de terra com gente dentro.
Perseguição, claro.

As acusações eram as mais infundadas. Desde uma que mencionava  o roubo de uma sonda urinária de um paciente ao lado seu leito na UTI até uma visita noturna ao banco de sangue do hospital para apropriar-se de sangue fresco destinado a pacientes graves.
Acusavam-no de ter fechado os portos às nações amigas, e aberto os portos às ações dos amigos.

Sua saúde estava debilitada  com as acusações; o sr Karstenberg já não saia de casa, já não aparecia em público acometido do que o seu médico particular Dr Abdelmassinha diagnosticara como o Mal de HansTemer, uma doença rara, que acometia sobretudo vice reis, vice governadores, e vices de merda, que se manifestava com os sintomas em que o doente se sentia um rato e não saía à ruas com medo de ser devorado pelos cachorros da vizinhança. A cachorrada era uma matilha que agora, mais esfomeada que nunca por cargos, propinas, benesses, e nacos de carne popular, atiçada com as acusações controlava de vez o quarteirão que ia da Padaria e Confeitaria Congresso até a cerca da Clínica Jaburu Perneta, uma clínica destinada ao tratamento de personalidades medíocres que se julgavam acima de Deus.

Karstenberg passava agora os dias amuado, calado, paranoico mesmo. Uma senhora dirigindo um velho e gasto Dodge Dart rondava sua casa com aquele alto-falante de vender pamonhas  gritando: tu não me escapas! Tu não me escapas!! Aquilo era terrível. Ele o mais honesto dos honestos, o mais justo dos justos, havia até pensado em fazer o papel de  Moyses no filme os Dez Mandamentos agora ameaçada a sua reputação com acusações vingativas, que surgiram desde o dia em que ele negara uma colherada de sorvete Dagewm Haas a uma camareira do Palácio, a sra. Ana Amélia do Passo Fundo. Assim chamada porque quando caminhava o peso dos seus encostos era tanto que seus passos afundavam a calçada por onde passava. Muito embora todos jurassem que aquela não era Ana Amélia e sim o fantasma de Robin Williams, uma Babá quase perfeita,  assombrando o castelo nas madrugadas, a ponto do sr Karstenberg dormir trancado dentro  de uma colheitadeira de soja.

Apesar do desespero e do legado que deixaria à Nação o ingrato  povo da Uberlíndia continuava como sempre : casando e  andando pro que acontecia na Capital , a cidade de Shit Roll, que os nativos insistiam em nacionalizar o nome chamando-a de Rola Bosta.

Foi então que Karstenberg percebeu que nada daquilo era real, ele era apenas uma personagem de uma série da  Notflit chamada de o Bananismo, e aquele era apenas o piloto de muitos capítulos  de violência, corrupção, e golpes baixos que viriam com o correr dos próximos episódios.

Mas uma coisa ninguém podia negar assistindo àquele piloto: o Sr Karstenberg era um canastrão como nunca houvera antes na História da Uberlíndia.

O grito unanime ecoava pelos ares: canastrão!!!



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