29 abril 2016

A Quem Pertence o Ódio?

ódio A Quem Pertence o Ódio?
O ódio, um buraco negro na nossa alma




Há uma frase que se usa brincando, mas com profunda verdade, quando se diz “...não é de Deus”. Assim, creio é o ódio: “...não é de Deus”.
Certa vez um motorista de taxio de SP na sua simplória – mas profunda sabedoria-  me disse: - “Meu senhor, o medo é um demônio que se alimenta do próprio medo”.
Nunca me esqueci desta frase dita há mais de dez anos. Da mesma forma posso hoje dizer que ódio é um demônio que se alimenta do próprio ódio.
Todos nós, mamíferos, temos origem selvagem, e muitas vezes – ou sempre - esta selvageria manifesta-se no dia a dia. Quantas vezes nos pegamos, ou a outros dizendo: “Tomara que morra! ” “Se eu pudesse eu matava” ou coisas semelhantes. Como podem passar tais pensamentos ou palavras pela expressão de pessoas que se julgam pacatas, boas, cordatas?
Porque o ódio, se não for imediatamente controlado se alimentará do próprio ódio, e crescerá em proporções inimagináveis. Do ouro lado, o objeto de nosso ´[ódio – se também ser humano poderá reagir à carga expressando por sua vez seu ódio. E aí temos um patético espetáculo: dois cegos cavaleiros esgrimindo no ar com seus fantasmas internos que julgam reais.
Alegria, tristeza, medo e raiva são sentimentos primários que encontraremos em todos os mamíferos. Mas o ódio não. O ódio é exclusividade humana. Não é sentimento primário, é formado de forma consciente, em contraposição ao amor. Ódio e amor são culturais, não são instintivos.
Amor traz saúde, física e mental. Cria boas energias à nossa volta. Eleva a alma e o espírito. O ódio nos faz descer ao mundo inferior das criaturas medonhas que povoam o inferno de cada um.
A escolha é sua: você pode exercitar-se diariamente no ódio, ou no amor.
Revertendo as primeiras frases deste post posso afirmar que o amor é um anjo que se alimenta do amor.

27 abril 2016

O Mundo Maravilhoso dos Youtubers


youtubers O Mundo Maravilhoso dos Youtubers
Muita informação para ser consumida.

Como um profissional das artes cênicas que também faço meus shows de humor, hoje chamados de stand ups, fiquei impressionado nos últimos anos com as miríades de jovens que lançarem-se em todos os espaços tentando ser engraçados e ganhar uns trocados exibindo-se com o chamado “humor em pé”.
A onda está passando. Mas...como diz Drummond em uma de suas poesias “...de tudo fica um pouco”. E ficaram uns poucos por aí. Vão restando os talentosos e perseverantes. Mas houve época que em qualquer “cave” encontrávamos um jovem vestido casualmente tentando ser um novo Charles Chaplin, ou um renovado Woody Allen.
São tantos quanto os violeiros de bar que encontramos em punhados pelas cantinas e botequins das madrugadas sertanejas. Minas tem em torno de 700 municípios. Creio que no interior, em cada um deles há pelo menos dois seresteiros tentando ser Milton ou Djavan, e vão ganhando seus trocados. Alguns talentosos. A maioria: medíocre.
Mas, antigo que sou (pra não me nomear velho) desconhecia o movimento dos youtubers. É um universo fantástico. São milhares de  jovens (alguns até com menos de dez anos)  tentando ser cada um deles mais criativos e originais que os outros. No Brasil são dezenas de milhares. No mundo, milhões. Cada um com seu canal. A maioria tentando “estourar” em sucesso com seu nicho e faturar uma graninha. Outros apenas desejam divertir ou informar.  Como entre os “standapeiros” e os violeiros,  alguns tem talento e perseverança. Estes  conseguem em um único dia ter 400.00 visualizações, o que convenhamos é mais que a tiragem diária dos maiores jornais do País. É um fantástico universo. Encontramos todos os temas. Desde  como fazer uma pintura de unhas e delinear cílios até como desmontar um motor de uma BMW. Cada um escolhe o nicho que lhe aprouver. Munidos na maioria das vezes apenas com uma câmera de smartphone fazem a distração de milhões.
Eu sabia que existia este universo, mas foram minhas duas netas, pré-adolescentes que me iniciaram nesta viagem pelo mundo dos youtubers.
Eu mesmo gostei e tornei-me um deles. É divertido.   É um forte instrumento de comunicação e informação que trabalha solto entre a tradicional e estabelecida mídia de jornais e tvs.
Quando eu me lembro que, na minha juventude, para divulgar uma ideia,  tínhamos que datilografar e distribuir em poucas cópias de carbono, ou então melar as mãos em mimeógrafos a álcool com edições que não chegavam a uma centena de cópias...fico estarrecido com a revolução que ocorre na tela de cristal líquido do meu tablet.

25 abril 2016

Hoje Chorei em Agradecimento à Vida



Você já se pegou emocionado, lágrimas brotando em seus olhos, não por tristeza, mas por profunda gratidão e agradecimento?
Creio que sim. Muitas vezes nos emocionamos por gestos e vitórias que chegam para nós.
Pois hoje eu me peguei chorando em agradecimento à vida. Apenas e tudo isto: à vida.
Eu digo aos meus amigos próximos que se pararmos pra pensar na nossa humílima condição diante do tamanho do Universo -  e agora sabemos de Multiversos - seria coisa para passarmos o dia de joelhos, prostrados em humilde reconhecimento da  nossa total pequenez diante da grandeza de luz e forças que nos envolve.
Repetindo Stephen Hawking, somos apenas uma criatura de carne e ossos, habitando um minúsculo planeta que gira em torno de uma estrela das menores, na borda de uma das bilhões de galáxias que compõe o Universo conhecido.
E ainda assim a vida é um mistério. O mistério é a vida, não é a morte. Quem somos, de onde viemos, para onde vamos, por que estamos aqui?
Há um milagre incontestável: o milagre da vida. O milagre e seu mistério. Não adianta tentar entende-lo, dominá-lo, apreende-lo. Só nos resta agradecer por fazer parte dele, por recebermos a cada dia que nasce este dom maravilhoso que é viver.
Por ele, hoje, verti lágrimas de agradecimento.

22 abril 2016

A Pipa Voada


pipa A Pipa Voada
50 festival de Pipas em Oswaldo Cruz - SP - Inscrições abertas
 A mais linda trazia consigo as cores verde e rosa. Não que eu fosse mangueirense. Naquele tempo nem pensava em Escolas de Samba, afinal tinha apenas 8 anos. Mas a pipa (arraia, papagaio...o nome que dão pelo Brasil à fora) mais bonita pra mi era a de papel de seda combinando as cores verde rosa.
Brinquedo simples, muito, mas muito distante de qualquer game cibernético dos dias de hoje: três varetas de bambu finas, cruzadas, e por cima das quais colava-se o papel de seda. Papel de seda -  diga-se de passagem - caríssimo e raro para nós à época. Tínhamos que ir ao armazém para comprar folha a folha. As moedas na mão, apertadas para não se perderem. De volta, vitoriosos, era recortar e fazer a pipa.
Depois a rabiola (o rabo que dá leme à pipa). Rabiolas as mais criativas e variadas eram elaboradas com esmero, e quanto maiores e mais portentosas mais valor dava-se àquela pipa “voada”, ou seja, àquela que   numa “cruza” perdera a batalha e levada solta pelo vento era seguida por dezenas de crianças pra ver quem seria o dono dela agora. Afinal pipa ”voada” não tem dono, é de quem pegar. Isso quando a turba infantil não “tascava” a pipa e ninguém ficava com ela.
A linha 10 era outra coisa cara pra nós crianças. Tinha que ser a linha dez, de carretel. ”Tá com medo, tabaréu, da linha de carretel? ” Era o grito de guerra que ecoava desafiador pela vizinhança, chamando outras pipas para o combate aéreo.
Mas para um bom combate fazia-se necessário o cerol. Uma arte que estendia a linha pelos postes da rua para retesada receber a goma fatal secando ao sol.
Não havia motos em quantidade àquela época, não havia o perigo de motoqueiros degolados pelas linhas como hoje.
O Mundo era mais simples.  Todo ele, para mim resumia-se a três ruas: a que eu morava; a rua de cima onde íamos roubar goiabas, cajus e mangas, e a Avenida, na de baixo, perigosa, com muito trânsito. Coisa pra gente grande.
Nunca mais vi meus amigos de infância. Quantos deles se tornaram “pipas voadas”? Quantos ainda resistem ao cerol da vida? Quantos ainda voam soberbos em vertiginosas alturas enquanto gritam: “Tá com medo, tabaréu? ”. Medo da vida?
Saudades.

20 abril 2016

A Incapacidade de Amar











                                            Abra o tesouro do seu coração

Não tenho grandes conhecimentos teológicos, então em época de “Os Dez Mandamentos” fui ao Google procurar pelo mandamento que diz “Amarás o Senhor Teu Deus”. E qual não foi minha surpresa ao descobrir que estes dois mandamentos não fazem parte das tábuas da Lei mosaica, mas são do Cristo Jesus.
Por favor, este não é um post religioso, busquei este Mandamento para justificar um artigo sobre o amor. E, mais uma vez surpreso: o Cristo Jesus dá continuidade falando exatamente de um segundo mandamento que diz “...E Amarás ao teu próximo como a ti mesmo”.
O objetivo deste post de hoje é observar a pessoa que vive mendigando amor, vive se queixando de que não é amada, que não encontra ninguém, que ninguém a quer.
E essa pessoa por acaso ama? Sabe amar? Dispõe-se a amar? Abre seu coração ao outro? Ou deseja - por carência afetiva absoluta -   amor incondicional apenas para si? É bom que ela saiba que só será amada se primeiro se dispuser a amar.
O ser humano não é como um cachorro. Por isso às vezes é mais comum ver uma pessoa dizendo: amo meu cachorro, ele me é fiel e me ama incondicionalmente.
O ser humano é um mamífero mais complexo.  E se você que me lê não consegue amar teu próximo talvez seja melhor continuar com seu cachorro. Ele estará sempre 24 horas por dia à sua disposição, será exclusivamente seu, e exclusivamente lhe dará toda a atenção que sua carência exige. Mas será sempre um cachorro.
Porque amor mesmo, amor de gente, esse tal amor que cantam os poetas e seresteiros, esse só vai acontecer quando você abrir o tesouro amoroso que traz fechado em seu coração.  Pede por amor e nem percebe a riqueza que carrega dentro de seu peito. Ame!!! Distribua amor e receberás medidas de amor, cheias, calcadas e recalcadas.

15 abril 2016

Amador Não É Sinônimo de Ruim e Sucesso Não É Só Celebridade


A Broadway, o clímax do show business

A maioria das pessoas confunde o sucesso com o show business,  na profissão dos atores.
Sucesso é uma coisa, show business, outra.
Assim como amador não é sinônimo de ruim. O ator de teatro amador (de algum tempo também chamado de ator de teatro alternativo) não é necessariamente um canastrão. É apenas uma pessoa que não optou por fazer do trabalho de ator uma profissão. E vamos encontrar muitos bons atores -  excelentes -  neste nicho. Fazem da arte cênica um prazer, um hobby.
Da mesma forma o público não entende como muitas vezes excelentes atores do mercado profissional não fazem “sucesso” como outros. Porque nem todos os atores escolheram a profissão como “business”. Escolheram ser profissionais sim, ou seja:  viver e sustentar-se da sua arte, mas não em transformá-la num grande negócio sujeito às mesmas regras que regem o “modus operandi” de executivos de grandes multinacionais.
Bem como faz-se necessário entender “sucesso” pela própria palavra: ter sucesso é alcançar aquilo a que se propôs fazer. Seja apenas uma única exibição teatral num auditório de subúrbio, ou o nome estelar, brilhando em neon nas avenidas das Cosmópolis. Ser bem-sucedido no que se propôs fazer, isto é o “sucesso”.
Amadores, profissionais e business. São três distintas posições diante da arte, e todas as três contribuem para a cultura e para o enlevo da sociedade. Essa a função social das artes cênicas. E isso é o que importa.

13 abril 2016

O Prazer da Velhice


old1 O Prazer da Velhice
Ah...dilícia de sorvete !!!

“Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teu ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança. 
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.”
Estes versos acima do poeta maior Carlos Drummond de Andrade quando lidos na juventude a gente entende, mas lidos na velhice a gente os vivencia. É diferente.
Pensava que ao chegar à minha idade não haveria prazer. Ledo engano. Creio que o maior prazer na velhice é o que hoje vivencio: o de poder saborear cada coisa e cada momento como único, de forma intensa, como se fora o último.
Quando se é jovem o sorvete, o jogo de bola, a praia, o colchão, o sapato, a camisa...tudo e todos são vistos como se eternos, logo desfrutáveis sempre e a qualquer momento.  Vulgares, comuns, direitos de juventude, direitos da vida.
Na velhice cada uma destas coisas ganha um outro colorido, um outro sentido: o sentido do aqui e agora. Do possível. Do finito, logo por isso mesmo tendo que ser eternizado naquele momento. De forma intensa e profunda. Passa a fazer parte de outros versos de outro poeta: “Que (tudo) seja eterno enquanto dure”. Vinícius de Moraes.

11 abril 2016

Crescimento Infinito Num Planeta Finito ?

pequim2 Crescimento Infinito Num Planeta Finito?
O dia a dia em Pequim, China. Os Maiores PIBs da última década.
Vejo no noticiário que o tal PIB brasileiro ficou negativo. O que significa isso? Significa que continuamos medindo a nossa felicidade pela riqueza produzida. Começo a perceber que este é um paradigma completamente ultrapassado. Tão ultrapassado quanto os conceitos de Estado ou de política partidária, que herdamos do século 18. Vivemos um outro mundo, uma outra época, que não a compreendemos ainda.
Mas sei que medir a felicidade de um povo ou de uma nação pelo seu PIB é furado. Vejamos a China: os maiores PIBs da última década, e o que temos lá hoje? Pessoas usando protetores no nariz para fazer face à poluição. Pequim, Shangai tem o ar irrespirável. Este é o preço do tal do PIB. E não precisamos ir tão longe, a busca pelo lucro, pela riqueza a qualquer preço nos trouxe a Samarco e a destruição do Rio Doce e todas as demais consequências.
O conceito velho é que temos sempre que ter o PIB crescendo e crescendo e crescendo infinitamente num planeta finito. Um planeta cujos recursos estão esgotando-se porque o modelo de progresso que conhecemos está, mais que nunca, baseado no lucro, no ganho financeiro, na geração de renda. Em última análise na ganância, pouco se importando com o equilíbrio da Natureza e a felicidade real da Humanidade.
E para termos este tal PIB crescendo geramos muito sofrimento, e sofrimento não traz felicidade. A felicidade vem da felicidade. Sofrimento só pode gerar sofrimento.
Não sei como resolver isso, mas sei de povos cujo PIB é baixíssimo mas tem florestas virgens, nascentes de água pura, mares limpos, ar respirável e baixos índices de selvagem criminalidade.
Sei que temos que repensar, neste século XXI todos os conceitos econômicos, políticos e sociológicos que conhecemos até hoje

09 abril 2016

Arte Primitivista Gosto, Gente Primitiva Não

BrilhonaFavela 1024x734 Arte Primitivista Amo, Gente Primitivista Não
"Brilho na Favela", naif de Tania Azevedo

Gosto muito da pintura primitivista. No Brasil sempre fui fã de Djanira, Chico da Silva,  Heitor dos Prazeres e tantos outros. Com eles não há o difuso e o  rebuscamento do impressionismo de Renoir, por exemplo. Ou o claro-escuro do renascentista Caravaggio. Não. Com eles amarelo é amarelo, verde é verde, vermelho é vermelho. Os contornos são claros e definidos. Nada do “pode ser isso ou aquilo” da arte abstrata: pau é pau, pedra é pedra.
Por isso amo tanto a minha Bahia. A luz e o clima de Salvador por exemplo muito a difere do Rio de Janeiro. O Rio tem uma bruma matinal, que às vezes estende-se pela tarde o que torna a sua paisagem longínqua difusa, quase impressionista. Já a Bahia, não. De manhã, ou à tarde, tudo é tão claro e distinto que do Porto da Barra, em Salvador, você pode ver as janelas das casas de Itaparica a 16 km de distância. O Nordeste é assim: as cores são claras, as formas definidas.
Gosto desta pintura, também chamada naif. Mas tenho muito cuidado com pessoas primitivistas, naifs. Elas existem sim. São aquelas rígidas, julgadoras permanentes. Aquelas para as quais não há meios-termos. Chegam a ser sectárias de tão radicais. Falta-lhes o jogo de cintura, falta-lhes a tolerância, o perdão, a compreensão da condição humana. Vamos encontra-las sobretudo em fanáticos religiosos ou políticos, em autoridades sociais ou familiares repressoras, mas sobretudo em falsos moralistas.
Quando já não estão lá, falta-lhes apenas um passo para a opressão, para o terror, a violência. São tão primitivas em suas definições que com certeza para elas, tudo que reluz é ouro, em contraposição ao dito de que a prática é o exercício da verdade, ou seja: “Nem tudo que reluz é ouro”.
Arte primitivista, amo. Gente primitivista, tou fora.