Depois que o
País foi jogado de vez na incerteza e na barbárie, e que a cadela do fascismo
está mais assanhada e protegida que nunca, só resta a este cronista esquecer o
que outrora foi uma Nação e hoje apenas um ajuntamento de pessoas, e falar de
coisas amenas, ou a menos sobre as pessoas que compõe este pedaço de terra.
Dois fatos
desta semana marcaram minha fala de hoje, e que eu reputo como Coisas de pobre.
O primeiro por ser afeto a pobre mesmo, o segundo por ser de pobre mentalidade.
Vamos ao
primeiro: Dona Maria, manicure, adquiriu um imóvel popular por contrato de
gaveta. A construtora cobrou-lhe uma dívida antiga à razão de dois mil reais
por mês. Ela disse que ganhava 1.300,00 reais e não podia pagar assim. Procurou
o Conselho de Direitos Humanos e entrou com um processo: pobre, mas honrada
queria pagar, mas um montante compatível com sua renda. Pois o juiz, com muita
classe, e confirmando sua classe, não só
indeferiu sua petição alegando que ela não era a verdadeira dona do imóvel –
contrato de gaveta – como ainda aplicou-lhe uma multa de 20.000,00. O que torna
a sentença contra uma pobre de Cristo senão cruel, ao menos ridícula. Cabe
recurso. Que custará mais tempo e dinheiro –
para os não pobres, tempo é dinheiro.
O segundo caso
foi o de uma madame que resolveu festejar seu niver numa dos mais chiques
restaurantes do Rio. Perguntou se podia levar sua própria torta. A casa assentiu.
Pode trazer sua torta sim, disse a atendente com grande simpatia. Mas no final
da festa a Casa cobrou cem reais pelo uso da geladeira onde ficou guardada a
torta. Mentalidade pobre, tanto da casa em por ganância cobrar pela guarda,
quanto da madame por não querer pagar pela torta da Casa, levando a sua
própria, o que a torna, pode-se chamar uma marmiteira de luxo.
Cabe recurso
na Justiça que dará naturalmente ganho de causa ao mais rico, se a Casa ou a
Madame. Mas um recurso que sairá mais caro que se a madame ficar calada e
morrer nos cem merréis pelo uso da geladeira de ouro.
Madame, como
a manicure pode recorrer ao Conselho dos Direitos Humanos declarando que ela,
que depois de tantas plásticas tem a cara mais torta que a própria torta, tem o
direito humano de comer a torta dela, com sua boca torta, em qualquer lugar sem
pagar por isso.
Sei que são
dois motes diferentes, mas com certeza justificam o título: coisas de pobre.
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