05 maio 2018

Os Atentados e o Arqueiro Incógnito





O xerife Chico Propina do condado de Rola Bosta no sudeste da Uberlíndia estava em dificuldades. Os atentados com flechas aconteciam em todo o Reino e ele não tinha ideia de como apurá-los.

As vitimas iam desde carruagens, acampamentos e caravanas até pessoas, como uma moça e seu cocheiro.
Quando a moça e o cocheiro apareceram caidos dentro da carruagem ele passou os trinta primeiros dias da investigação com a hipótese de que eles estavam apenas desfalecidos. Como o condado já estava sobrevoado por urubus – embora as crianças insistiam em chama-los de tucanos -  ele finalmente decidiu que ela e o cocheiro estavam mortos. 
Mas como morreram? Seis meses depois ele afirmou: foram flechadas, porque  era claro:  havia 3 flechas nas costas do cocheiro e mais quatro no rosto da moça. Ele aventou então a hipótese de suicídio. 
Foi então que uma caravana que circulava pelo sul da Uberlíndia foi atacada com flechadas. O xerife de imediato concluiu que os membros da caravana  haviam saltado,  e gargalhando como hienas num piquenique  à base de sanduiches de mortadela,  haviam mirado no próprio comboio num exercício de flecha ao alvo.  Seguiu-se a este um outro ataque a flechadas num acampamento de ciganos mais ao norte da Uberlíndia. O xerife foi lacônico na sua conclusão: ciganos são capazes de tudo para aparecer.  

Após um ano e três meses de investigação Chico Propina  chegara à brilhantes conclusões. 
Primeira: de que eram fechas; segunda: tinham o  mesmo calibre, digo: a mesma  marca artesanal, logo eram provenientes de uma mesma origem. Dois anos e sete meses após o primeiro facto o Xerife Chico Propina declarou à prensa de Gutenberg: estamos no caminho certo, não posso falar nada ainda, mas sem dúvidas são flechas.

Porém após três anos  de investigações, e de tais brilhantes deduções o xerife foi substituído pelo xerife Mauricio Coxinha que prometeu à população que as investigações seriam agora levadas com mais rigor científico e para isso ele começaria o trabalho do zero, ou seja começando por apurar se as vítimas, agora já enterradas e pranteadas estavam mesmo mortas, e se confirmadas as mortes, haviam  morrido apenas para desmoralizar o governo da Uberlíndia, já que eram sabidamente provocadores ligados ao bando de Robin Hood.

Hoje, passados 4 anos do primeiro facto aguardamos a declaração do xerife Maurício Coxinha sobre o caso. Fontes confiáveis já anteciparam que ele vai afirmar que está chegando perto da solução, mas que não falará mais nada porque  a investigação corre em sigilo.

A Uberlíndia é um País atrasado e de má vontade política, se fosse numa tal terra de Santa Cruz este caso já estaria resolvido em uma semana com a prisão dos mortos, da caravana, dos ciganos e de quebra de um nordestino cabeça chata que estava passando por perto e foi parar numa   solitária.



01 maio 2018

Adeus Uberlíndia







A Uberlíndia era um País absurdo, sem solução, pensava o parlamentar com seus botões, e seus botões não era os da sua camisa de seda pura, mas sim seus dois assessores parlamentares: João Botão e Zé Botão. Dois dedicados representantes do lumpesinato religioso e que religiosamente serviam ao parlamentar Zé Canguinha, eleito com três milhões de votos, praticamente toda a massa trabalhadora da Uberlíndia: dois milhões, novecentos e noventa e nove mil, novecentos e noventa e sete motoristas de Uber e três de Cabify.

Não era séria a Uberlíndia.

Ele havia combinado com um lobista que receberia duzentos milhões de Silvérios (Silvério era a moeda de troca da Uberlíndia) desde que ele votasse pelo fim completo das riquezas minerais daquele rincão, outrora respeitado pelo Mundo e agora reduzido a mero  exportador de estrume para a Somália. Ele votou, o lobista pegou o dinheiro com a mineradora Humboldt and Merckz com sede em Yowa nos Estados Unidos e desapareceu. Soube-se que fora visto tomando sorvete Dagen Haas numa ilha do Caribe. Não era séria.
De outra feita quando o parlamentar era o Ministro da Doença, a Uberlindia tomara-se exemplo Mundial no combate a saúde, só restaram as doenças. As mais ricas, raras e variadas: tuberculose, chicungunha, dengue, baiancu (este importado do Cabukistão), a febre amarela que voltou aclamada pelo público, a febre verde amarela, uma epidemia de coxinhas, e dizem até que em breve seria ressuscitada por lá, a varíola. O esforço do Ministério da Doença para isso era imenso, e com mais uma granazinha aqui, uma propinazinha ali, o surgimento da peste era mais que certo.

Pois não era séria a Uberlíndia: um carregamento de remédios para crianças com necessidades especiais fora combinado que seria desviado para Boston a serem revendidos em valiosos dólares revertidos para os embornais do parlamentar. Os containers que chegassem ao Aeroporto Internacional da Uberlindia, - Aeroporto Covil dos Ratos – deveriam conter apenas supositórios de glicerina. Os ciosos despachantes haviam despachado realmente parta Boston os remédios especiais, ficaram com toda a rana e disseram ao parlamentar:

- Não está satisfeito vá queixar-se ao Bispo.
Esta era a frase mais comum na Uberlíndia:
-Vá queixar-se ao Bispo.

Embora ninguém, soubesse exatamente qual Bispo, tantos que haviam na Uberblindia.
Depois do negócio patriota em Boston,  venderam os supositórios para o Paraguai que os revendeu para as Ilhas Maurício, considerando que todo mauricinho é chegado num supositório. Sem contar que eu duvido que a maioria de nós saiba onde ficam as tais Ilhas Maurício, não fosse o fato de que de quatro em quatro anos, nas Olimpíadas, dois babacas aparecessem carregando a bandeira daquela josta.

E ainda haviam as acusações infundadas contra ele, em tribunais internacionais naturalmente, já que o último tribunal da Uberlíndia havia fechado e virara um food truck de cachorros quentes. O Mundo acusava-o de ter ganhado quatro mansões em áreas ambientais em troca da elevação do gabarito de construção em áreas históricas para 140 andares, feito em comum acordo com a construtora Obrigado Amigo Sogro.
Impossível fazer qualquer negócio honesto na Uberlíndia. Certa feita aguardou por um mês um carregamento de cocaína para uso fármaco familiar, e quando afinal recebeu a encomenda foi uma desonestidade: apenas quilos e mais quilos de pó Royal. A concorrência no Parlamento era desleal, era chute, cavalhada, porrada no saco, puxão de cabelo, o diabo a quatro para ver quem conseguia apropriar-se mais e mais do Tesouro Nacional.

Era desleal: até dedo no rabo acontecia nas sessões parlamentares.

A Uberlindia chegara a tal ponto de decadência, desorganização e desvalorização que por absurdo que pareça,  lá o crime não compensa. Uma delação já não oferecia mais nenhum prêmio, haja à vista que todo mundo delatava todo mundo, a caguetagem virara valor nacional,  ou seja: não valia porra nenhuma,  já que a Uberlindia não tinha o menor valor.

Pois naquele dia, pensando com seus botões, completamente desiludido com a Uberlindia, o nobre parlamentar decidiu: havia ouvido falar de um lugar onde tudo funcionava a como ele sonhava. Só havia, portanto, um jeito para ele exercer a sua vocação com plenitude: abandonar a Uberlíndia e ir morar nesse tal lugar que chamavam...Brasil!