26 abril 2018

Abominação





Abominação!!! Abominação!!! Gritava seu  Eustáquio naquela madrugada do subúrbio.

Acho a palavra forte, e fui entende-la melhor: abominação é algo repulsivo, execrável.
E seu Eustáquio cujo estágio cristão  era tão fundamentalista que não chegara  sequer ao Novo Testamento, baseando-se ainda no livro dos Levitas, gritava desesperado Abominação!

A abominável criatura era seu próprio filho Aristáquio, deitado com outro homem como se fosse mulher.

A ideia inicial partira do próprio Eustaquio. Aposentado, soube da chegada de um novo presidente para a antiga empresa onde trabalhara por décadas. O executivo era um rapaz jovem, bem apessoado, que chegara de Curitiba, o que por si só era uma excelente referência. 

Seu filho Aristaquio estava com 18 anos e Eustáquio pusera na cabeça que estava na hora de arranjar-lhe um emprego. Então arranjou-se  a sagrada família: convidaram o rapaz, Adamáquio, para um jantar em casa. Onde toda a familia estaria presente honrando o convidado e apresentando Aristáquio formalmente para ver se arranjava um emprego para o caçula.

Jantaram como janta uma família cristã: orações, carne assada, conversas amenas, sobremesas servidas, licor de pequi,  até que chegou a hora do chefinho curitibano ir embora, mas aí caiu uma providencial tempestade , dessas de inundar o bairro. Adamáquio não conseguiria sair. Eustáquio, o patriarca,  não se fez de rogado:

- Dorme aqui, amanhã o senhor vai. Pode dormir no quarto de Aristachio, tem duas camas.

Convite aceito, toda a família recolheu-se.
Mas, quarenta minutos depois, silencio absoluto Eustaquio resolveu ir ao quarto do filho, sabe-se lá por que. Porta entreaberta, luz do corredor acesa, quarto no escuro. Abriu a porta e a luz do corredor incidiu como um refletor na cena mais abominável para aquela sagrada família: Eustáquio e Adamáquio enlaçados no maior love.
Uma gritaria, um corre corre, um mata mata. Toda a família espremida no corredor gritando como galinhas diante de um gambá.  Pega que é o capeta! Chama o Pastor Malafáquio ! Abominação ! gritou Eustáquio, Aristaquinho com quem você criou este vício abominável?

E Aristachio com a maior liberdade da chamada geração cristal implodiu a família: com Tio Petraquio! Desde meus dez anos de idade.

A mãe desmaiou, as irmãs gritavam histéricas e o pai Eustáquio proferiu a sentença fatal: - Fora desta casa, imediatamente os dois! Fora! Fora , abominações! Vão para o Inferno! Mas saiam já!

O casal recém formado saiu sob a chuva, sob raios e trovoadas, mas no dia seguinte sob o sol tropical da Uberlíndia Aristáquio estava empregado como Assessor da presidência na firma de Adamáquio. Um ótimo salário  uma alta posição, que abre caminho para que todos os domingos o casal antes abominável seja recebido para almoço na casa de Eustáquio, que orgulhoso do filho que fez carreira, não toca mais no assunto daquela noite, e ainda brinda a amizade dos dois, dizendo: a família é tudo!




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