Abominação!!! Abominação!!! Gritava seu Eustáquio naquela madrugada do subúrbio.
Acho a palavra forte, e fui entende-la melhor: abominação é algo
repulsivo, execrável.
E seu Eustáquio cujo estágio cristão era tão fundamentalista que não chegara sequer ao Novo Testamento, baseando-se ainda
no livro dos Levitas, gritava desesperado Abominação!
A abominável criatura era seu próprio filho Aristáquio, deitado
com outro homem como se fosse mulher.
A ideia inicial partira do próprio Eustaquio. Aposentado,
soube da chegada de um novo presidente para a antiga empresa onde trabalhara
por décadas. O executivo era um rapaz jovem, bem apessoado, que chegara de Curitiba,
o que por si só era uma excelente referência.
Seu filho Aristaquio estava com 18 anos e Eustáquio pusera na
cabeça que estava na hora de arranjar-lhe um emprego. Então arranjou-se a sagrada família: convidaram o rapaz,
Adamáquio, para um jantar em casa. Onde toda a familia estaria presente
honrando o convidado e apresentando Aristáquio formalmente para ver se
arranjava um emprego para o caçula.
Jantaram como janta uma família cristã: orações, carne
assada, conversas amenas, sobremesas servidas, licor de pequi, até que chegou a hora do chefinho curitibano
ir embora, mas aí caiu uma providencial tempestade , dessas de inundar o
bairro. Adamáquio não conseguiria sair. Eustáquio, o patriarca, não se fez de rogado:
- Dorme aqui, amanhã o senhor vai. Pode dormir no quarto de
Aristachio, tem duas camas.
Convite aceito, toda a família recolheu-se.
Mas, quarenta minutos depois, silencio absoluto Eustaquio
resolveu ir ao quarto do filho, sabe-se lá por que. Porta entreaberta, luz do
corredor acesa, quarto no escuro. Abriu a porta e a luz do corredor incidiu
como um refletor na cena mais abominável para aquela sagrada família: Eustáquio
e Adamáquio enlaçados no maior love.
Uma gritaria, um corre corre, um mata mata. Toda a família
espremida no corredor gritando como galinhas diante de um gambá. Pega que é o capeta! Chama o Pastor Malafáquio
! Abominação ! gritou Eustáquio, Aristaquinho com quem você criou este vício
abominável?
E Aristachio com a maior liberdade da chamada geração cristal
implodiu a família: com Tio Petraquio! Desde meus dez anos de idade.
A mãe desmaiou, as irmãs gritavam histéricas e o pai
Eustáquio proferiu a sentença fatal: - Fora desta casa, imediatamente os dois!
Fora! Fora , abominações! Vão para o Inferno! Mas saiam já!
O casal recém formado saiu sob a chuva, sob raios e
trovoadas, mas no dia seguinte sob o sol tropical da Uberlíndia Aristáquio
estava empregado como Assessor da presidência na firma de Adamáquio. Um ótimo
salário uma alta posição, que abre
caminho para que todos os domingos o casal antes abominável seja recebido para
almoço na casa de Eustáquio, que orgulhoso do filho que fez carreira, não toca
mais no assunto daquela noite, e ainda brinda a amizade dos dois, dizendo: a
família é tudo!
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