Conta a lenda que o
Imã Rarabishuerba era juiz sábio e renomado na fantástica terra da Uberlíndia… .
Devo confessar a vocês que sempre que leio ou que alguém fala Uberlíndia não
faço a menor ideia de onde fica. Mas isso não vem ao caso. Fato é que o Imã não
perdia uma causa sequer com julgamentos históricos. Certa vez condenou um
camelo a pagar multa diária de 1.000.00 de dólares cada vez que ficasse parado
obstruindo as calçadas da capital a cidade de Isoilin Ibn Sharmuta.
Mas daquela vez o caso estava difícil, não conseguia meter na
cadeia o Cidadão Sin Saladin acusado de haver comido a própria língua.
Há cinco anos tentava provar que a língua havia sido devorada
pelo próprio acompanhado de homus tarrine, coalhada seca e zatar. Mas não conseguia provas. Sin Saladin
continuava a falar como se sua língua continuasse a existir.
Os interrogatórios se sucediam:
- O sr comeu a própria língua.
-Não sr se tivesse comido não estaria falando.
- É um truque o sr pode estar falando pelos cotovelos. Pelo
que consta nos autos O sr não tem
língua.
- Tenho sim, veja, e Sin Saladin botou pra fora quase trinta
centímetros de língua.
Rarabishuerba ficou indignado
- O sr está debochando deste tribunal, está mostrando a
língua fazendo careta para a minha majestade. O que me consta é que o sr não
tem língua logo ao mostra-la passa a ser acusado também de falsidade ideológica
e desacato à autoridade.
- O sr disse que eu
não tinha língua e quis lhe mostrar.
_ O sr não tem língua, posso vê-la, mas sei que não tem. Tenho
três testemunhas, que depois de dois anos de tortura na solitária, deixamos
eles com língua para confessaram de viva voz que viram o sr mastigando a própria língua
durante a exposição de Aranhas Cabeludas no Museu Bahamas.
-Não era minha língua, eu estava mascando balas Juquinha, e
não foi no Museu Bahamas, foi numa visita à Sagrada Gruta Molhada.
- Não vem ao caso. A
literatura jurídica dá outro nome à Gruta Molhada.
- Por acaso seria...xibiu?
Dito isto o réu sorriu e pôde-se ver sua indecente língua.
Rarabishuerba estava desesperado, precisava de todo jeito
meter aquele linguarudo na cadeia. Cinco
anos tentando provar que o reu havia comido a própria língua, nestes cinco anos
conhecera tudo sobre línguas: língua ao molho madeira, língua falada, língua
escrita, língua morta, língua pátria, língua estrangeira, beijo de língua,
beijo técnico, língua de vaca, língua da sogra, chocolate língua de gato, e até
cunilíngua, mas a língua de Sin Saladin continuava ali.
Não havia outro jeito. Ele era o Santo Inquisidor e nunca
havia perdido um caso. Proferiu a sentença: Sin Saladin, comeu a própria língua
com grão de bico no Restaurante Acepipes das Arábias, condeno o réu à pena
máxima, não tenho provas, mas tenho convicção.
Dito isso limpou a própria baba raivosa que escorria de sua
boca usando a sua própria língua.
O réu foi para a cadeia, mas para desespero de Rarabishuerba a língua
de Sin Saladin tornou-se a língua do povo.
Assim conta a lenda...
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