O Cabo Anselmo, símbolo do dedo-duro no País.
Desde pequenininho, quando ainda
matava pintinhos passando com as rodas do seu velocípede por cima deles,
encantado com a possibilidade de
exterminar os seus diferentes, Adalberto Palofi Silvério dos Reis, fora
diagnosticado pelo psiquiatra alemão Von Stadt que tinha uma clínica de abortos
e de próteses dentárias na Baixa dos Sapateiros, em Salvador, como uma
personalidade equilibrada , patriótica e que ainda prestaria grandes serviços à
Nação, nação que o psiquiatra germanosoteropolitano insistia em chamar de
Uberalles e não Uberlíndia.
Não deu outra. Seguindo a genética
dos Silvério dos Reis, orgulhosos de serem dedo-duros, agora pelo eufemismo
tucano chamado de delatores, seguindo a mesma linha de raciocínio de que desempregados
fazendo bicos como pipoqueiros, marmiteiros, passeadores de cachorros, e
coçadores de costas de aposentadas desembargadoras coxinhas são agora chamados
de empreendedores, Seguindo a genética
familiar Adalberto Palofi Silvério dos Reis
assim qu cresceu, não deu outra, filho de imigrantes pobres estabelecidos nos
confins da terra, que fizeram fortuna dedurando gente lá no sertão, saíra
do Tucanistão onde nascera com a língua presa, a enfermeira nazi austríaca prendera
com o alfinete a sua língua na fralda. O que o levou ao seu primeiro prazer
anal que foi comer merda ainda no berço.
Jovem formado foi para a capital da Uberlindia, The National Surub, o
que em bom berlindes significa a Suruba Nacional.
Seu objetivo era cumprir a honrosa
missão familiar que ele perpetuava desde que seu tataravô denunciara Galileu e
Giordano Bruno à Inquisição, e que sua tia dedurara seu cavalo Aloisius Ferrado
por ter feito cocô na sala do Papa Bórgia: partiu para cumprir a missão de gloriosa de dedurar, delatar num bom tucanês.
Uma vez em National Surub entrou de
cabeça , servil, nos meandros da pudibunda politica local.
Ali ganhou dinheiro suficiente que
daria para comprar até um quilo e meio
de contra filé no supermercado o
Bife do Outro, que anunciava com
estardalhaço na tv: compre um quilo de alcatra e ganhe de brinde uma Ferrari de
ouro .
Milionário, mas sempre sacaneado por
sua língua ainda presa ao berçário Vem Cá Nenem, me dá seu rin. Adalberto
Palofi chegara ao seu momento de glória, e de orgasmo. Dedurar para ele era o
orgasmo supremo. Tinha um prazer inenarrável. Supimpa mesmo! Sentia a calça a
se molhar toda quando aproximava-se de um inquisidor da Uberlindia, sobretudo
quando o Inquisidor exalava aquele odor de mula engravatada, e suplicava : quero fazer uma delação em troca
de preservar meus milhõezinhos amealhados com tanta maestria de corrupção.
"Entrego a cabeça de quem vocês
quiserem, até do que resta de mamãe." A pobre senhora hoje era apenas um toco de
gente, tanto que já fora presa e torturada delatada pelo filho, mas abençoava-o
dizendo com a metade da boca que lhe sobrara: "é um legítimo Silvério dos Reis." Mas cruelmente acrescentava: "pena que tem a língua presa."
Adalberto Palofi Silverio do Reis não
tinha escrúpulos, lealdade, ou limites: o importante era dedurar e cumprir
assim a saga familiar, desde os Bórgias, desde Galileu, desde Tiradentes: e
agora lutava para trocar sua liberdade e proteger seus milhõeszinhos dedurando
aquela porra de nordestino odiado pela metade mais bondosa do Tucanistão,
e que aliás não fora por falta aviso
que aquele líder popular criara aquela
cobra.
E agora a cobra repetia feliz
aguardando a vez de ser chamada a dedurar: "quem pariu Mateus que o embale, é da
minha essência , sou um Silvério dos Reis!"
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