18 abril 2018

O Dedo-Duro


O Cabo Anselmo, símbolo do dedo-duro no País.




Desde pequenininho, quando ainda matava pintinhos passando com as rodas do seu velocípede por cima deles, encantado com  a possibilidade de exterminar os seus diferentes, Adalberto Palofi Silvério dos Reis, fora diagnosticado pelo psiquiatra alemão Von Stadt que tinha uma clínica de abortos e de próteses dentárias na Baixa dos Sapateiros, em Salvador, como uma personalidade equilibrada , patriótica e que ainda prestaria grandes serviços à Nação, nação que o psiquiatra germanosoteropolitano insistia em chamar de Uberalles e não Uberlíndia.

Não deu outra. Seguindo a genética dos Silvério dos Reis, orgulhosos de serem dedo-duros, agora pelo eufemismo tucano chamado de delatores, seguindo a mesma linha de raciocínio de que desempregados fazendo bicos como pipoqueiros, marmiteiros, passeadores de cachorros, e coçadores de costas de aposentadas desembargadoras coxinhas são agora chamados de  empreendedores, Seguindo a genética familiar Adalberto Palofi  Silvério dos Reis assim qu cresceu, não deu outra, filho de imigrantes pobres estabelecidos nos confins da terra, que fizeram fortuna dedurando gente lá no sertão,   saíra do Tucanistão onde nascera com a língua presa, a enfermeira nazi austríaca prendera com o alfinete a sua língua na fralda. O que o levou ao seu primeiro prazer anal que foi comer merda ainda no berço.  Jovem formado foi para a capital da Uberlindia, The National Surub, o que em bom berlindes significa a Suruba Nacional.

Seu objetivo era cumprir a honrosa missão familiar que ele perpetuava desde que seu tataravô denunciara Galileu e Giordano Bruno à Inquisição, e que sua tia dedurara seu cavalo Aloisius Ferrado por ter feito cocô na sala do Papa Bórgia:  partiu para cumprir a missão de gloriosa de  dedurar, delatar num bom tucanês.
Uma vez em National Surub entrou de cabeça , servil, nos meandros da pudibunda politica  local.

Ali ganhou dinheiro suficiente que daria para comprar até um quilo e meio  de contra filé no supermercado  o Bife do Outro,    que anunciava com estardalhaço na tv: compre um quilo de alcatra e ganhe de brinde uma Ferrari de ouro .
Milionário, mas sempre sacaneado por sua língua ainda presa ao berçário Vem Cá Nenem, me dá seu rin. Adalberto Palofi chegara ao seu momento de glória, e de orgasmo. Dedurar para ele era o orgasmo supremo. Tinha um prazer inenarrável. Supimpa mesmo! Sentia a calça a se molhar toda quando aproximava-se de um inquisidor da Uberlindia, sobretudo quando o Inquisidor exalava aquele odor de mula engravatada,  e suplicava : quero fazer uma delação em troca de preservar meus milhõezinhos amealhados com tanta maestria de corrupção.

"Entrego a cabeça de quem vocês quiserem, até do que resta de mamãe." A pobre senhora hoje era apenas um toco de gente, tanto que já fora presa e torturada delatada pelo filho, mas abençoava-o dizendo com a metade da boca que lhe sobrara: "é um legítimo Silvério dos Reis." Mas cruelmente acrescentava: "pena que tem a língua presa."

Adalberto Palofi Silverio do Reis não tinha escrúpulos, lealdade, ou limites: o importante era dedurar e cumprir assim a saga familiar, desde os Bórgias, desde Galileu, desde Tiradentes: e agora lutava para trocar sua liberdade e proteger seus milhõeszinhos dedurando aquela porra de nordestino odiado pela metade mais bondosa do Tucanistão, e   que aliás não fora por falta aviso que aquele líder popular  criara aquela cobra.

E agora a cobra repetia feliz aguardando a vez de ser chamada a dedurar: "quem pariu Mateus que o embale, é da minha essência , sou um Silvério dos Reis!"



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