27 abril 2018

O Acampamento

O Santo Pato



Ethelberg Von Reinstroff é um homem de bem, um cidadão correto, branco como a neve, morador na Uberlindia meridional,  e religioso adorador de um totêmico pato amarelo. Levava uma vida recatada e gostava de andar em sua rua sentindo o cheiro matinal das araucárias, que os vulgos chamavam de pinheiros. Experimentava uma paz, um silêncio, uma segurança que só se consegue entre seus iguais.

Tudo isto desmoronou desde o dia em que um grupo de gente estranha, muito estranha,  acampou na sua rua.  Mais precisamente na pracinha das araucárias.

Era um tal movimento de Ocupa o Pinhal. Que desde seu titulo já éra uma ameaça à moral e bons costumes, porque Ocupa o Pinhal dito de forma rápida era o cu po pinhal.
Mas o tal acampamento era um  protesto que exigia a imediata contratação de tradutores de javanês, o javanês  havia se tornado a língua  oficial da  elite da Uberlíndia incompreensível para a maioria do povo.
Fato é que  a partir deste acampamento acabou a paz e  sossego do cidadão Ethelberg Von Reinstroff e seus vizinhos.

E ele explica que se sente intimidado toda vez que precisa passar pela rua para entrar ou sair de casa.
Sua esposa, a sra Gerda Von Reinstroff und  Reisntroff  também denunciou: Estamos tendo dificuldade de locomoção. Muitas vezes nós temos que andar algumas quadras a mais para entrar pelo acesso correto.

O vizinho deles sr Frederic Von Ribbentrop ajuntou: Ocorre que passar pelo meio dos manifestantes a gente se sente intimidado porque o pessoal vai saindo da frente devagarzinho, e eles vão te encarando, vão olhando para você de uma forma intimidadora, só porque você não é javanês.  muitos deles vão colocando a mão gordurosa no nosso automóvel, como essa gentalha, de uma cor fulva, cabelos em desalinho, e sapatos sujos se atrevem a tocar em nossos automóveis?

Está terrível disse a senhora: até meu cachorro entrou em depressão, e quase morreu depois que essa chusma deu a ele osso de galinha para comer.

Ethelberg prosseguiu: Ontem mesmo quando eu fui passar uma das pessoas ficou me encarando e dizendo que eu era javanês… e todo mundo ficou olhando para mim, eu não quero esta gente me olhando. Vou entrar com um pedido na Justiça proibindo esta gentalha da Uberlindia Setentrional de ficar me olhando. Não quero essa gente de cabeça chata e sotaque estranho me olhando. Incomoda muito.

É uma gente suja. Queremos essa gente fora da Uberlindia, queremos nossa Uberlíndia geneticamente  limpa, em paz, onde à noite possamos nos sentar em volta do fogo e assar marshmellows, cantar marchas ao som de nossas panelas, e reverenciar  nosso deus o santo pato amarelo.

Ainda bem que a Uberlínia é só uma fantasia deste autor.








  



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