09 maio 2015

A Disciplina do Ator Através de Bibi Ferreira e Walter Avancini



bibi A Disciplina do Ator Através de Bibi Ferreira e Walter Avancini
Quando se fala em disciplina na profissão das artes cênicas sempre se associa logo que disciplina é chegar no horário. Muitas vezes eu ouço atores dizendo:
-Eu sou profissional, chego sempre no horário.
Como se o profissionalismo se resumisse a isto. Chegar no horário é o mínimo que se pode esperar de um ator, porque isto é o que se deve esperar de qualquer pessoa que tenha um compromisso agendado. Profissional, ou não.
Quando eu falo de disciplina refiro-me à disciplina interna  do ator, coisa que aprendi com dois mestres: Bibi Ferreira e Walter Avancini, uma no Teatro e o outro na TV.
Para dar um exemplo conto o fato ocorrido entre eu e Bibi, em São Paulo, quando da estreia da peça "Deus Lhe Pague", de Joracy Camargo, onde contracenava com Humberto Martins e Adriane Galisteu.
Fazia frio na época da estreia, e  eu como bom morador do Rio tinha apenas uma blusa de lã. Por sinal cara e de renomada etiqueta. mas quando cheguei ao saguão do Hotel para ir com ela à estreia no Teatro, ela me disse:
-"O senhor não tem um sobretudo? Vai me aparecer com esta blusinha de lã para a plateia paulistana? O senhor é um ator, um protagonista, uma estrela !!! Tem que estar sempre muito bem vestido, o público o observa sempre. Amanhã o senhor saia e compre um sobretudo. tenha pudor !!!"
Não preciso dizer que ensaiar ou trabalhar de bermudas e chinelos, para Bibi, nem pensar!!!
Com Bibi aprendi a disciplina interna do ator: não falar quando o assunto não lhe diz respeito; esperar o Diretor e os colegas falarem; ouvir e entender os enunciados de ensaios e exercícios; sentar com postura correta diante de todos; aguardar pacientemente e em silêncio ser chamado para a cena... E vai por aí.
E sobretudo os horários: se é indisciplina chegar atrasado, mais ainda é chegar antes, constrangendo as pessoas.
Já Avancini era muito mais severo que Bibi: dizia ele que cenário não foi feito para ator sentar ou deitar, a não ser na hora de gravar; objeto de cena dos outros colegas não devia ser tocado; concentração absoluta na hora da sua cena e na dos outros; durante o almoço os atores deviam manter a concentração, permanecendo calados enquanto comem; ter o texto decorado, estudado e memorizado, e sobretudo: romper limites na busca da criatividade e da interpretação. Para Avancini não deveria existir ator cansado, e o ato de representar deveria trazer prazer e alheamento dos problemas diários e mundanos.
Era excitante trabalhar com ele, e os resultados sempre foram os melhores da teledramaturgia brasileira.
Aos Mestres, com carinho.

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