Falabella e Gimenez no enterro do jovem Raphael Mascarenhas
Como ator faz parte da minha profissão e processo criativo ser observador. É da observação do mundo e do próximo que vamos enchendo nossa canastra de referências para compor personagens.
Uma destas observações é que boa parte dos artistas, sobretudo as mulheres usam óculos escuros quando vão ao velório ou enterro de alguém.
Procuro entender o porquê desta prática. Esconder olhos inchados pelo tamanho pranto derramado? Não creio alguns deles parte eram íntimos dos falecidos.
Nos últimos dias os céus chamaram muitos de nós, e lá estavam os indefectíveis óculos escuros.
Seu uso será apenas por elegância? Também não posso crer.
Merchandising de óticas? Não creio que cheguemos a tanto.
Perguntei a uma colega porque os óculos escuros no velório de um outro e ela me disse que na verdade os óculos escuros nada tinham a ver com a luminosidade ou com lágrimas. Ela os usava como forma de intimidação: seu uso servia para inibir a aproximação de jornalistas e curiosos, uma espécie de “I Want to be alone”. É como se ela estivesse dizendo: “Respeitem-me, quero recolher-me dentro de mim mesmo neste momento”. Ao mesmo tempo em que passava uma imagem intimidatória. Como nossos carros, blindados e com os vidros escuros, como nossas casas com grades, muros altos e eletrificados, como nossos condomínios com seguranças, alarmes e circuitos de TV.
Ela não deixa de ter razão, artistas e celebridades são muito assediados, sobretudo em ocasiões como essas. E é fato: eu mesmo, durante o velório de meu pai, no auge do sucesso do "Bafo de bode" vinham pessoas de outras salas para pedir autógrafos, mesmo estando eu aos prantos. Eu explicava que estava prantendo meu pai e elas diziam: "Mas é só um autógrafo, rapidinho." Hoje pediriam selfies.
Talvez os óculos escuros os intimidassem e me permitissem prantear em paz.
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