Hoje estava lendo um artigo de Fernando Gabeira em O Globo.
No tal artigo ele chama o governo de governo de bandidos...destrata a figura da
Presidência...renega todo o seu passado que já passou. Conseguiu barrar até o Reinaldo
Azevedo em matéria de baixarias contra o Governo.
Mas...uma coisa puxa a outra. Gabeira não me decepciona. Já
vivi muitas decepções com tipos que a gente idealiza e viaja na ilusão
de que é um grande revolucionário.
Uma delas foi no início da década de 80. Tempo em que se
podia ir à praia de sunguinha de tricô sem ter que levar um porrete pra
defender o que a polícia e o Estado não conseguem: a nossa segurança. Aí
hospedamos em nossa casa na Bahia um líder guerrilheiro (cujo nome preservo)
que voltava do exílio. Que honra… E que ilusão!
Imaginava que passaríamos os dias em diálogos profundos sobre
a Revolução, o Mundo, as causas sociais. Etc. etc..
Que nada. O tal rapaz começava o dia (por volta das duas da
tarde) desberlotando um prato fundo de maconha. Eu ficava sentado do outro lado
da mesa de jantar imaginado como seria uma sopa de marijuana servida em prato
fundo... Nada contra nem a favor da maconha, mas ela não pode ser o valor único
da sua vida como me pareceu ser naquele momento para o delicado “Tupamaro”.
O Papo revolucionário? Era assim: - "Essa é da boa, ganhei de um
pessoal de Juazeiro. Tem pouca semente. Muito boa..."
Depois de duas horas desberlotando e preparando uma reserva
de cigarros da erva o tal líder, metrossexual por excelência, começava a se
vestir para sair. Uma hora e meia experimentando roupinhas e camisas, e
perguntando pra mulher dele: - Gatinha (eu não aguentava mais ouvi-lo chamar
gatinha) você acha que essa camisa fica melhor pra hoje à noite, ou essa outra
aqui?
Três dias assim, de porra nenhuma, e a decepção crescendo.
Até que chegou a hora de embarcar os “gatinhos” para o Rio.
Minha mulher e eu não tínhamos mais nenhum saco de ver a
cara dele. O aeroporto ficava a uns 30 km de nossa casa, e nos vingamos da
futilidade do líder da guerrilha:
- "Nosso carro tá quebrado, não dá pra leva-los ao Aeroporto."
E largamos eles na beira da estrada, chapados, mochilas às costas,
à deriva como um casal de náufragos.
A última lembrança viva que tenho dele é com o dedo
enganchado pedindo carona pra chegar no Aeroporto. Acho que nunca chegou.
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