Gosto muito da pintura primitivista. No Brasil sempre fui fã de Djanira, Chico da Silva, Heitor dos Prazeres e tantos outros. Com eles não há o difuso e o rebuscamento do impressionismo de Renoir, por exemplo. Ou o claro-escuro do renascentista Caravaggio. Não. Com eles amarelo é amarelo, verde é verde, vermelho é vermelho. Os contornos são claros e definidos. Nada do “pode ser isso ou aquilo” da arte abstrata: pau é pau, pedra é pedra.
Por isso amo tanto a minha Bahia. A luz e o clima de Salvador por exemplo muito a difere do Rio de Janeiro. O Rio tem uma bruma matinal, que às vezes estende-se pela tarde o que torna a sua paisagem longínqua difusa, quase impressionista. Já a Bahia, não. De manhã, ou à tarde, tudo é tão claro e distinto que do Porto da Barra, em Salvador, você pode ver as janelas das casas de Itaparica a 16 km de distância. O Nordeste é assim: as cores são claras, as formas definidas.
Gosto desta pintura, também chamada naif. Mas tenho muito cuidado com pessoas primitivistas, naifs. Elas existem sim. São aquelas rígidas, julgadoras permanentes. Aquelas para as quais não há meios-termos. Chegam a ser sectárias de tão radicais. Falta-lhes o jogo de cintura, falta-lhes a tolerância, o perdão, a compreensão da condição humana. Vamos encontra-las sobretudo em fanáticos religiosos ou políticos, em autoridades sociais ou familiares repressoras, mas sobretudo em falsos moralistas.
Quando já não estão lá, falta-lhes apenas um passo para a opressão, para o terror, a violência. São tão primitivas em suas definições que com certeza para elas, tudo que reluz é ouro, em contraposição ao dito de que a prática é o exercício da verdade, ou seja: “Nem tudo que reluz é ouro”.
Arte primitivista, amo. Gente primitivista, tou fora.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe um comentário.