22 abril 2016

A Pipa Voada


pipa A Pipa Voada
50 festival de Pipas em Oswaldo Cruz - SP - Inscrições abertas
 A mais linda trazia consigo as cores verde e rosa. Não que eu fosse mangueirense. Naquele tempo nem pensava em Escolas de Samba, afinal tinha apenas 8 anos. Mas a pipa (arraia, papagaio...o nome que dão pelo Brasil à fora) mais bonita pra mi era a de papel de seda combinando as cores verde rosa.
Brinquedo simples, muito, mas muito distante de qualquer game cibernético dos dias de hoje: três varetas de bambu finas, cruzadas, e por cima das quais colava-se o papel de seda. Papel de seda -  diga-se de passagem - caríssimo e raro para nós à época. Tínhamos que ir ao armazém para comprar folha a folha. As moedas na mão, apertadas para não se perderem. De volta, vitoriosos, era recortar e fazer a pipa.
Depois a rabiola (o rabo que dá leme à pipa). Rabiolas as mais criativas e variadas eram elaboradas com esmero, e quanto maiores e mais portentosas mais valor dava-se àquela pipa “voada”, ou seja, àquela que   numa “cruza” perdera a batalha e levada solta pelo vento era seguida por dezenas de crianças pra ver quem seria o dono dela agora. Afinal pipa ”voada” não tem dono, é de quem pegar. Isso quando a turba infantil não “tascava” a pipa e ninguém ficava com ela.
A linha 10 era outra coisa cara pra nós crianças. Tinha que ser a linha dez, de carretel. ”Tá com medo, tabaréu, da linha de carretel? ” Era o grito de guerra que ecoava desafiador pela vizinhança, chamando outras pipas para o combate aéreo.
Mas para um bom combate fazia-se necessário o cerol. Uma arte que estendia a linha pelos postes da rua para retesada receber a goma fatal secando ao sol.
Não havia motos em quantidade àquela época, não havia o perigo de motoqueiros degolados pelas linhas como hoje.
O Mundo era mais simples.  Todo ele, para mim resumia-se a três ruas: a que eu morava; a rua de cima onde íamos roubar goiabas, cajus e mangas, e a Avenida, na de baixo, perigosa, com muito trânsito. Coisa pra gente grande.
Nunca mais vi meus amigos de infância. Quantos deles se tornaram “pipas voadas”? Quantos ainda resistem ao cerol da vida? Quantos ainda voam soberbos em vertiginosas alturas enquanto gritam: “Tá com medo, tabaréu? ”. Medo da vida?
Saudades.

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