A modernidade, a revolução cibernética, e sobretudo a
neocolonização globalizada cria fantasmas na cabeça de gente simples.
Dona Marina, é uma senhora já setentona, que mora em
Cordovil, a bem da verdade: depois do valão de Cordovil. Cordovil, pra quem não
conhece o Rio é um bairro do subúrbio, de gente pobre e trabalhadora - o que aliás, e uma redundância já que nunca vi
trabalhador rico.
Mas Dona Mariana estava desconsolada. Veio me procurar chorosa
pra tentar entender o porquê do desvio de conduta da sua filha Rhayanne que ela
criara com tanto zelo e esmero. A caçula, logo a caçula, desviar-se desta forma,
aos 35 anos!
Pergunto a ela o que houve.
- Vai virar prostituta. Não sei o que deu nessa menina. Acho
que foi “trabalho” feito por alguma inimiga, assim o pastor Malafita me disse.
Mas o “seu” Claudio do Detran me disse que é por causa da crise que a Dilma
mergulhou o País; Dra. Maria Tereza que é ”pisicóloga merendeira ” da escola
municipal me disse que pode ser trauma pós-operatório, ela operou uma hérnia “belical”
há um ano atrás.
- Sim, mas o que se passa?
- Rhayanne vai virar prostituta. Eu vi o papel!
- Que papel?
- Da Prefeitura. Faz o cadastro na Prefeitura.
- A Prefeitura está cadastrando moças pra trabalharem como
prostitutas?
- Deve ser por causa da Olimpíada. Me disseram que japonês
ainda gosta de mulher.
- Mas que papel é esse Dona Marina?
- Uma licença pra trabalhar na zona. Eles vão indicar a zona
onde ela vai trabalhar. E ainda por cima
não é honesto, é pra enganar os fregueses, é na base do truque, eu vi lá
escrito: fode truque (disse ela abrasileirando as palavras)
- Ah, Dona Marina, é o Food Truck (Fud Trock, repliquei eu)
- Tanto faz que sotaque tenha meu filho, Vai trabalhar de
puta num caminhãozinho na zona. E a Prefeitura é que vai dizer em que bairro.
Tomara que pelo menos seja aqui perto do valão, que assim ela pode vir almoçar
em casa, tomar um banho e descansar as pernas antes de voltar.
- Dona Marina, sossegue, é a nova onda, comida em vans, caminhonetes,
comida de primeira.
- E eu não sei? Minha
filha é muito bonita, uma comida de primeira. Ninguém vai reclamar. Mas o que
me incomoda mais ainda é que ele a vai ter que dividir os ganhos com a
Prefeitura. Em que mundo vivemos, Jesus!? O Prefeito carimbando a prexeca das
mulheres!!
Não teve jeito de convencer Dona Marina, deixei-a ir de
volta ao seu mundo além valão. Com o tempo ela vai entender. Contanto que a filha possa vir almoçar em
casa.
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