24 abril 2018

O Faquir e o Jejum

Silki, o Faquir brasileiro





Quando eu era menino havia um faquir.
Era um faquir mesmo, com turbante e tudo. Lembro que ele uma vez ficou quarenta dias jejuando. Ele não disse , mas hoje, quando vejo mais gente, sobretudo gente da Lei,  com vocação para faquir, acreditando mais no jejum que na Constituição começo a  ter a certeza que o faquir da minha infância jejuava para derrubar o Juscelino da Presidência.

Não deu certo , nem o
jejum, nem o faquir,  que sumiu depois disso. Soube que apareceu anos mais tarde num cirquinho de pano de roda em Rio das Almas  engolindo fogo e jejuando pela família hetero top e contra a chegada do homem na Lua.

Hoje o faquir de antanho dedica-se a provar com um power point que o homem nunca chegou na lua, graças ao seu jejum.
Diz ele: 
- Aquilo tudo foi montado num estúdio de Hollywood. Meu jejum é poderoso. Muitas coisas que jamais aconteceriam aconteceram só por causa do seu jejum.

Afirma que graças ao seu jejum, e só o dele, de mais ninguém o papel higiênico passou a obedecer as marcas de corte certinhas.
Que graças ao seu jejum o óleo de soja substituiu a banha nas cozinhas de todo o País.
Também uma vez foi chamado às pressas para jejuar e conseguir que o Chile desaparecesse e a Bolívia chegasse até o Pacífico. Mas foi derrotado por um pão de mel que ele não resistiu e comeu com o prazer orgástico de quem assedia  uma galinha. A Bolivia sifu, derrotada pela gula do faquir.

Jejum é coisa séria. É praticado por povos de todo o mundo, como no Brasil, um antigo País coim uma antiga civilização, ambos já desaparecidos, dizem até que era uma tal Atlandida que foi submersa por um colossal tsunami de bosta de mulas e jegues.
Diz a lenda que durante séculos o povo daquele extinto País jejuou, sobretudo os pobres, os bem pobres eram então a maioria da população e fazia uma corrente nacional de jejum cujo objetivo era  aumentar a riqueza e os bens e propriedades de meia dúzia de banqueiros e milionários que ficavam ainda mais milionários. E o jejum deu certo, por séculos  e séculos amém. Os ricos cada vez mais ricos e os pobres felizes, cada vez mais pobres.

Até o dia em que apareceu um falso messias e distribuiu comida para os pobres esfomeados que não resistiram ao pão de mel de Garanhuns e comeram. Com a quebra do jejum os ricos começaram a empobrecer.

Então contra atacaram. Terceirizaram o jejum. Chamaram um bonitinho predileto de Deus para jejuar por eles, já que eles mesmo não se metem em público a dizer asnices em nome do Todo Poderoso.

O novo faquir prometeu que seu jejum vai levar à prisão o falso messias, afirmou com procuração passada no cartório da Uberlindia que Deus é apaixonado por causas que metem na cadeia quem ousa lutar pelos pobres e oprimidos, pelos simples e pelos humildes.

O faquir afirmou que Deus também atende pelo codinome de Seu Coisa, às vezes seu coisinha e é proprietário de uma rede de lojas varejistas que vendem roupas femininas e para cama, mesa, banho e jejuns prolongados.

O novo faquir fez estas declarações no domingo de Páscoa para mostrar ao Mundo seu espírito cristão,  caritativo e justo. Sua próxima proeza será ascender aos céus numa nuvem rosa e pairar de braços abertos em cima da Penitenciária da Papuda.

Mas isso já será em outro jejum. Provavelmente depois de ter alta do Hospício Central da Uberlindia.

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