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05 maio 2018
Os Atentados e o Arqueiro Incógnito
O xerife Chico
Propina do condado de Rola Bosta no sudeste da
Uberlíndia estava em dificuldades. Os atentados com flechas aconteciam em todo
o Reino e ele não tinha ideia de como apurá-los.
As vitimas
iam desde carruagens, acampamentos e caravanas até pessoas, como uma moça e seu
cocheiro.
Quando a
moça e o cocheiro apareceram caidos dentro da carruagem ele passou os trinta
primeiros dias da investigação com a hipótese de que eles estavam apenas desfalecidos.
Como o condado já estava sobrevoado por urubus – embora as crianças insistiam
em chama-los de tucanos - ele finalmente
decidiu que ela e o cocheiro estavam mortos.
Mas como morreram? Seis meses
depois ele afirmou: foram flechadas, porque era claro: havia 3 flechas nas costas do cocheiro e mais
quatro no rosto da moça. Ele aventou então a hipótese de suicídio.
Foi então que uma caravana que circulava pelo sul da Uberlíndia foi
atacada com flechadas. O xerife de imediato concluiu que os membros da caravana
haviam saltado, e gargalhando como hienas num piquenique à base de sanduiches de mortadela, haviam mirado no próprio comboio num exercício
de flecha ao alvo. Seguiu-se a este um
outro ataque a flechadas num acampamento de ciganos mais ao norte da Uberlíndia.
O xerife foi lacônico na sua conclusão: ciganos são capazes de tudo para
aparecer.
Após um ano e três meses de investigação Chico Propina chegara à brilhantes conclusões.
Primeira: de que eram
fechas; segunda: tinham o mesmo calibre,
digo: a mesma marca artesanal, logo eram
provenientes de uma mesma origem. Dois anos e sete meses após o primeiro facto
o Xerife Chico Propina declarou à prensa de Gutenberg: estamos no caminho
certo, não posso falar nada ainda, mas sem dúvidas são flechas.
Porém após três
anos de investigações, e de tais brilhantes
deduções o xerife foi substituído pelo xerife Mauricio Coxinha que prometeu à população
que as investigações seriam agora levadas com mais rigor científico e para isso
ele começaria o trabalho do zero, ou seja começando por apurar se as vítimas,
agora já enterradas e pranteadas estavam mesmo mortas, e se confirmadas as
mortes, haviam morrido apenas para
desmoralizar o governo da Uberlíndia, já que eram sabidamente provocadores
ligados ao bando de Robin Hood.
Hoje,
passados 4 anos do primeiro facto aguardamos a declaração do xerife Maurício
Coxinha sobre o caso. Fontes confiáveis já anteciparam que ele vai afirmar que
está chegando perto da solução, mas que não falará mais nada porque a investigação corre em sigilo.
A Uberlíndia
é um País atrasado e de má vontade política, se fosse numa tal terra de Santa
Cruz este caso já estaria resolvido em uma semana com a prisão dos mortos, da
caravana, dos ciganos e de quebra de um nordestino cabeça chata que estava
passando por perto e foi parar numa solitária.
01 maio 2018
Adeus Uberlíndia
A Uberlíndia
era um País absurdo, sem solução, pensava o parlamentar com seus botões, e seus
botões não era os da sua camisa de seda pura, mas sim seus dois assessores
parlamentares: João Botão e Zé Botão. Dois dedicados representantes do
lumpesinato religioso e que religiosamente serviam ao parlamentar Zé Canguinha,
eleito com três milhões de votos, praticamente toda a massa trabalhadora da
Uberlíndia: dois milhões, novecentos e noventa e nove mil, novecentos e noventa
e sete motoristas de Uber e três de Cabify.
Não era
séria a Uberlíndia.
Ele havia
combinado com um lobista que receberia duzentos milhões de Silvérios (Silvério era
a moeda de troca da Uberlíndia) desde que ele votasse pelo fim completo das riquezas
minerais daquele rincão, outrora respeitado pelo Mundo e agora reduzido a mero exportador de estrume para a Somália. Ele votou,
o lobista pegou o dinheiro com a mineradora Humboldt and Merckz com sede em
Yowa nos Estados Unidos e desapareceu. Soube-se que fora visto tomando sorvete
Dagen Haas numa ilha do Caribe. Não era séria.
De outra
feita quando o parlamentar era o Ministro da Doença, a Uberlindia tomara-se
exemplo Mundial no combate a saúde, só restaram as doenças. As mais ricas,
raras e variadas: tuberculose, chicungunha, dengue, baiancu (este importado do
Cabukistão), a febre amarela que voltou aclamada pelo público, a febre verde
amarela, uma epidemia de coxinhas, e dizem até que em breve seria ressuscitada
por lá, a varíola. O esforço do Ministério da Doença para isso era imenso, e com
mais uma granazinha aqui, uma propinazinha ali, o surgimento da peste era mais
que certo.
Pois não era
séria a Uberlíndia: um carregamento de remédios para crianças com necessidades
especiais fora combinado que seria desviado para Boston a serem revendidos em
valiosos dólares revertidos para os embornais do parlamentar. Os containers que
chegassem ao Aeroporto Internacional da Uberlindia, - Aeroporto Covil dos Ratos
– deveriam conter apenas supositórios de glicerina. Os ciosos despachantes
haviam despachado realmente parta Boston os remédios especiais, ficaram com
toda a rana e disseram ao parlamentar:
- Não está
satisfeito vá queixar-se ao Bispo.
Esta era a
frase mais comum na Uberlíndia:
-Vá
queixar-se ao Bispo.
Embora
ninguém, soubesse exatamente qual Bispo, tantos que haviam na Uberblindia.
Depois do
negócio patriota em Boston, venderam os
supositórios para o Paraguai que os revendeu para as Ilhas Maurício,
considerando que todo mauricinho é chegado num supositório. Sem contar que eu duvido
que a maioria de nós saiba onde ficam as tais Ilhas Maurício, não fosse o fato
de que de quatro em quatro anos, nas Olimpíadas, dois babacas aparecessem
carregando a bandeira daquela josta.
E ainda
haviam as acusações infundadas contra ele, em tribunais internacionais
naturalmente, já que o último tribunal da Uberlíndia havia fechado e virara um
food truck de cachorros quentes. O Mundo acusava-o de ter ganhado quatro mansões
em áreas ambientais em troca da elevação do gabarito de construção em áreas históricas
para 140 andares, feito em comum acordo com a construtora Obrigado Amigo Sogro.
Impossível
fazer qualquer negócio honesto na Uberlíndia. Certa feita aguardou por um mês
um carregamento de cocaína para uso fármaco familiar, e quando afinal recebeu a
encomenda foi uma desonestidade: apenas quilos e mais quilos de pó Royal. A
concorrência no Parlamento era desleal, era chute, cavalhada, porrada no saco,
puxão de cabelo, o diabo a quatro para ver quem conseguia apropriar-se mais e
mais do Tesouro Nacional.
Era desleal:
até dedo no rabo acontecia nas sessões parlamentares.
A Uberlindia
chegara a tal ponto de decadência, desorganização e desvalorização que por
absurdo que pareça, lá o crime não compensa.
Uma delação já não oferecia mais nenhum prêmio, haja à vista que todo mundo
delatava todo mundo, a caguetagem virara valor nacional, ou seja: não valia porra nenhuma, já que a Uberlindia não tinha o menor valor.
Pois naquele
dia, pensando com seus botões, completamente desiludido com a Uberlindia, o
nobre parlamentar decidiu: havia ouvido falar de um lugar onde tudo funcionava
a como ele sonhava. Só havia, portanto, um jeito para ele exercer a sua vocação
com plenitude: abandonar a Uberlíndia e ir morar nesse tal lugar que
chamavam...Brasil!
30 abril 2018
O Mula Doida
- Vamos à
Greve ! E quem furar a greve está morto!
Este foi o
grito de Antonio José Bustamante Cardoso Bispo dos Santos , que é conhecido na
comunidade Buraco do Michel como Mula Doida.
É líder não
só desta comunidade , como também de uma importante facção que comanda mais da
metade do tráfico de drogas e entorpecentes da outrora maravilhosa vila de Dom Sebastião de Gothan City.
Dom
Sebastião como se sabe é o rei desaparecido de Portugal, que fumou estragado e
sumiu nas arábias, mas que segundo a legisladora
Meméia, a louca de Novo Hamburgo, na
verdade fora sequestrado pela Al Jazzera. Até hoje a população, ou seja os tres milhões
de motoristas de UBER, acham que este Rei vai voltar, e vai afinal trazer a notícia de quem matou
Marielle .
Mula Doida
tem 19 anos e já é o chefe do tráfico na Cidade, semi analfabeto, este prodígio
de empreendedor com tão pouca idade negocia armas no mercado internacional,
fala dezoito línguas, conhece o câmbio , a Bolsa de Valores, e influencia
sobretudo nas guerras tribais da África e dos Países do Oriente. Claro que os
habitantes da outrora bela cidade acham impossível que Mula Doida seja o chefe
verdadeiro de tudo isso, mas...vida que segue.
Irritado com
a tal perseguição policial, e com o aumento dos valores da extorsão praticada
pelos prepostos do reino, um achaque que passara dos limites ele decidiu: - Vamos entrar em Greve!
Imaginem os
senhores: numa terra onde nem tendo os
focinhos arrastados na lama, e retirados todos os seus direitos ninguém faz
greve, eis que os traficantes e marginais resolveram optar pela Greve Geral da
Maconha, Similares e Derivados.
- Greve geral! Bocas fechadas! Ninguém mais fuma,
cheira, ou se aplica na Cidade.
Pânico estabelecido. A revolta espalhou-se
rapidamente entre os Cidadãos de Bem e as Famílias de Moral da Vila de Dom
Sebastião. Não se falava em outra coisa entre os altos executivos das grandes
corporações, nas cantinas dos caríssimos colégios religiosos, nos points a beira mar, e no Baixo Coxinha que era o lugar mais
badalado da Cidade.
Os usuários
enlouqueceram, soube-se de casos que alguns que depois de baixar fotos de
drogas e similares engoliram seus
smartphones, outros triturararam e tentaram cheira-los .
Afetado o
comercio, a bolsa, o turismo , tudo começou a parar na cidade. Nos bairros abastados as passeatas de
protesto tendo à frente um Pato Branco – símbolo do branco que estava em falta
na cidade – se multiplicavam nos condominios fechados.
Só havia um
jeito: intervenção militar para que Mula Doida fosse preso, a comunidade
devastada, e a vida na Vila de Dom Sebastião voltasse ao normalidade.
Feita a
intervenção tudo voltou ao normal, e os roubos, homicídios, furtos de carga,
roubo d e automóveis, roubo de celulares, estupros, sequestros aumentaram em
proporção vertiginosa, e a Vila conheceu um progresso no crime nunca antes visto, para lucro total dos verdadeiros Coringas,
Pinguins, Lady Shiva, O Porko, e todos os verdadeiros chefões do crime que de longe assistiam o pé de chinelo Mula Doida
ser morto com 139 tiros . Estava salva a Muy Digna e Heroica Vila de Dom
Sabastião de Gothan City.
Quanto ao
Rei sumido? Dom Sebastião? Até hoje não
apareceu,. E creio que nunca o fará, porque ele não é besta de aparecer por lá
pra ser assaltado assim que puser o pé na rua.
29 abril 2018
A Rainha de Copas
- Cortem-lhe a
cabeça! Cortem-lhe a cabeça!
Nem mesmo o autor de Alice no País das Maravilhas poderia imaginar que
a sua personagem, a Rainha de Copas, havia pulado fora da História, ou melhor
havia entrado para a História.
Depois de servir como atendente direta
de Mussolini fabricando-lhe pizzas de fina massa trabalhadora, rapidamente
ascendeu na maldade e foi ser assessora de Hitler, e grande incentivadora da
solução final.
Com o fim do nazismo fugiu de jangada
para a Argentina onde esteve a serviço dos generais até naufragar com um destroier
nas costas das Malvinas. A coisa ruim veio a nado e veio dar com os costados na
Uberlíndia.
Ali fixou-se como emigrante ilegal,
até que vendendo um dos anéis de ouro que possuía conseguiu um visto de
trabalho. Trabalhou muitos anos como aparadora de restos nos centros de tortura
da Uberlíndia. Tendo até recebido a medalha de mérito por relevantes serviços prestados
à humanidade, se é que se podia chamar de humanos aquele amontoado de gente da Uberlindia
que quando não estavam atirando e matando-se uns aos outros estavam
completamente anestesiados andando pelas ruas como zumbis com a cara mergulhada
em smartphones.
Por uns breves anos na Uberlíndia teve
que retornar à condição semiclandestina, quando passou a trabalhar como
piniqueira – lavadora de pinicos – no Motel Bahamas.
Mas a sorte lhe sorriu a passou a ser
ama seca, muito seca, do seco rebento do vampirão seco que imperava na Uberlíndia
e que por ser muito velho deixava a Imperatriz na maior secura.
Dali para ser ela mesma a Rainha de
Copas de sempre, foi um passo, melhor ou pior ainda: agora não era apenas A
Rainha De Copas havia se transformada numa hidra de sete cabeças, por isso era
difícil identificar seu nome, ora era um nome, ora outro. Como uma besta
apocalíptica gritava após ter conseguido mandar prender um sujeitinho arrogante
que ousara ser maior que ela, logo ela de origem autoritária, elitista e aristocrática:
- Cortem-lhe a cabeça! Cortem-lhe a
Cabeça!
- Mas Majestade, atreveu-se a lhe orientar
um puxa saco que havia sido ministro da Cultura. Assim como a Bolívia não tem
mar, mas tem Ministro Marinha, assim a Uberlindia tem Ministro para isso e para
os vexames de sempre.
- Majestade já está um pé no saco este
tal de cortem-lhe a cabeça. Muito monótono, e depois cabeça cortada é maldade
pouca, acaba o sofrimento logo.
- Tem razão, rosnou a Rainha.
Prendam-no.
Mas é pouco. Predam-no num espaço
pequeno. Mas ainda é pouco.
Prendam-no isolado de todos.
É pouco...hummm proíbam as visitas...
nem o rei de Roma, nem o rato que roeu as roupas da rainha de Roma podem
visita-lo ah e não toquem mais no nome dele, em nenhum jornal, rádio ou
televisão. E quem o fizer será preso e processado.
Deixem-no preso por algumas décadas.
Mas se isso não quebrantar-lhe o ânimo então não tem outro jeito a não ser
seguir o conto da Alice, Cortem-lhe a cabeça!
Afinal a Uberlíndia não é também
chamada de o País das Maravilhas?
28 abril 2018
O Linguarudo
Conta a lenda que o
Imã Rarabishuerba era juiz sábio e renomado na fantástica terra da Uberlíndia… .
Devo confessar a vocês que sempre que leio ou que alguém fala Uberlíndia não
faço a menor ideia de onde fica. Mas isso não vem ao caso. Fato é que o Imã não
perdia uma causa sequer com julgamentos históricos. Certa vez condenou um
camelo a pagar multa diária de 1.000.00 de dólares cada vez que ficasse parado
obstruindo as calçadas da capital a cidade de Isoilin Ibn Sharmuta.
Mas daquela vez o caso estava difícil, não conseguia meter na
cadeia o Cidadão Sin Saladin acusado de haver comido a própria língua.
Há cinco anos tentava provar que a língua havia sido devorada
pelo próprio acompanhado de homus tarrine, coalhada seca e zatar. Mas não conseguia provas. Sin Saladin
continuava a falar como se sua língua continuasse a existir.
Os interrogatórios se sucediam:
- O sr comeu a própria língua.
-Não sr se tivesse comido não estaria falando.
- É um truque o sr pode estar falando pelos cotovelos. Pelo
que consta nos autos O sr não tem
língua.
- Tenho sim, veja, e Sin Saladin botou pra fora quase trinta
centímetros de língua.
Rarabishuerba ficou indignado
- O sr está debochando deste tribunal, está mostrando a
língua fazendo careta para a minha majestade. O que me consta é que o sr não
tem língua logo ao mostra-la passa a ser acusado também de falsidade ideológica
e desacato à autoridade.
- O sr disse que eu
não tinha língua e quis lhe mostrar.
_ O sr não tem língua, posso vê-la, mas sei que não tem. Tenho
três testemunhas, que depois de dois anos de tortura na solitária, deixamos
eles com língua para confessaram de viva voz que viram o sr mastigando a própria língua
durante a exposição de Aranhas Cabeludas no Museu Bahamas.
-Não era minha língua, eu estava mascando balas Juquinha, e
não foi no Museu Bahamas, foi numa visita à Sagrada Gruta Molhada.
- Não vem ao caso. A
literatura jurídica dá outro nome à Gruta Molhada.
- Por acaso seria...xibiu?
Dito isto o réu sorriu e pôde-se ver sua indecente língua.
Rarabishuerba estava desesperado, precisava de todo jeito
meter aquele linguarudo na cadeia. Cinco
anos tentando provar que o reu havia comido a própria língua, nestes cinco anos
conhecera tudo sobre línguas: língua ao molho madeira, língua falada, língua
escrita, língua morta, língua pátria, língua estrangeira, beijo de língua,
beijo técnico, língua de vaca, língua da sogra, chocolate língua de gato, e até
cunilíngua, mas a língua de Sin Saladin continuava ali.
Não havia outro jeito. Ele era o Santo Inquisidor e nunca
havia perdido um caso. Proferiu a sentença: Sin Saladin, comeu a própria língua
com grão de bico no Restaurante Acepipes das Arábias, condeno o réu à pena
máxima, não tenho provas, mas tenho convicção.
Dito isso limpou a própria baba raivosa que escorria de sua
boca usando a sua própria língua.
O réu foi para a cadeia, mas para desespero de Rarabishuerba a língua
de Sin Saladin tornou-se a língua do povo.
Assim conta a lenda...
27 abril 2018
O Acampamento
O Santo Pato
Ethelberg Von Reinstroff é um homem de bem, um cidadão
correto, branco como a neve, morador na Uberlindia meridional, e religioso adorador de um totêmico pato
amarelo. Levava uma vida recatada e gostava de andar em sua rua sentindo o
cheiro matinal das araucárias, que os vulgos chamavam de pinheiros.
Experimentava uma paz, um silêncio, uma segurança que só se consegue entre seus
iguais.
Tudo isto desmoronou desde o dia em que um grupo de gente
estranha, muito estranha, acampou na sua
rua. Mais precisamente na pracinha das
araucárias.
Era um tal movimento de Ocupa o Pinhal. Que desde seu titulo
já éra uma ameaça à moral e bons costumes, porque Ocupa o Pinhal dito de forma
rápida era o cu po pinhal.
Mas o tal acampamento era um
protesto que exigia a imediata contratação de tradutores de javanês, o
javanês havia se tornado a língua oficial da
elite da Uberlíndia incompreensível para a maioria do povo.
Fato é que a partir
deste acampamento acabou a paz e sossego
do cidadão Ethelberg Von Reinstroff e seus vizinhos.
E ele explica que se sente intimidado toda vez que precisa passar pela rua
para entrar ou sair de casa.
Sua
esposa, a sra Gerda Von Reinstroff und Reisntroff
também denunciou: Estamos tendo dificuldade de locomoção. Muitas vezes
nós temos que andar algumas quadras a mais para entrar pelo acesso correto.
O
vizinho deles sr Frederic Von Ribbentrop ajuntou: Ocorre que passar pelo meio dos
manifestantes a gente se sente intimidado porque o pessoal vai saindo da frente
devagarzinho, e eles vão te encarando, vão olhando para você de uma forma
intimidadora, só porque você não é javanês.
muitos deles vão colocando a mão gordurosa no nosso automóvel, como essa
gentalha, de uma cor fulva, cabelos em desalinho, e sapatos sujos se atrevem a
tocar em nossos automóveis?
Está
terrível disse a senhora: até meu cachorro entrou em depressão, e quase morreu
depois que essa chusma deu a ele osso de galinha para comer.
Ethelberg
prosseguiu: Ontem mesmo quando eu fui passar uma das pessoas ficou me encarando
e dizendo que eu era javanês… e todo mundo ficou olhando para mim, eu não quero
esta gente me olhando. Vou entrar com um pedido na Justiça proibindo esta
gentalha da Uberlindia Setentrional de ficar me olhando. Não quero essa gente
de cabeça chata e sotaque estranho me olhando. Incomoda muito.
É uma
gente suja. Queremos essa gente fora da Uberlindia, queremos nossa Uberlíndia
geneticamente limpa, em paz, onde à
noite possamos nos sentar em volta do fogo e assar marshmellows, cantar marchas
ao som de nossas panelas, e reverenciar
nosso deus o santo pato amarelo.
Ainda
bem que a Uberlínia é só uma fantasia deste autor.
26 abril 2018
Abominação
Abominação!!! Abominação!!! Gritava seu Eustáquio naquela madrugada do subúrbio.
Acho a palavra forte, e fui entende-la melhor: abominação é algo
repulsivo, execrável.
E seu Eustáquio cujo estágio cristão era tão fundamentalista que não chegara sequer ao Novo Testamento, baseando-se ainda
no livro dos Levitas, gritava desesperado Abominação!
A abominável criatura era seu próprio filho Aristáquio, deitado
com outro homem como se fosse mulher.
A ideia inicial partira do próprio Eustaquio. Aposentado,
soube da chegada de um novo presidente para a antiga empresa onde trabalhara
por décadas. O executivo era um rapaz jovem, bem apessoado, que chegara de Curitiba,
o que por si só era uma excelente referência.
Seu filho Aristaquio estava com 18 anos e Eustáquio pusera na
cabeça que estava na hora de arranjar-lhe um emprego. Então arranjou-se a sagrada família: convidaram o rapaz,
Adamáquio, para um jantar em casa. Onde toda a familia estaria presente
honrando o convidado e apresentando Aristáquio formalmente para ver se
arranjava um emprego para o caçula.
Jantaram como janta uma família cristã: orações, carne
assada, conversas amenas, sobremesas servidas, licor de pequi, até que chegou a hora do chefinho curitibano
ir embora, mas aí caiu uma providencial tempestade , dessas de inundar o
bairro. Adamáquio não conseguiria sair. Eustáquio, o patriarca, não se fez de rogado:
- Dorme aqui, amanhã o senhor vai. Pode dormir no quarto de
Aristachio, tem duas camas.
Convite aceito, toda a família recolheu-se.
Mas, quarenta minutos depois, silencio absoluto Eustaquio
resolveu ir ao quarto do filho, sabe-se lá por que. Porta entreaberta, luz do
corredor acesa, quarto no escuro. Abriu a porta e a luz do corredor incidiu
como um refletor na cena mais abominável para aquela sagrada família: Eustáquio
e Adamáquio enlaçados no maior love.
Uma gritaria, um corre corre, um mata mata. Toda a família
espremida no corredor gritando como galinhas diante de um gambá. Pega que é o capeta! Chama o Pastor Malafáquio
! Abominação ! gritou Eustáquio, Aristaquinho com quem você criou este vício
abominável?
E Aristachio com a maior liberdade da chamada geração cristal
implodiu a família: com Tio Petraquio! Desde meus dez anos de idade.
A mãe desmaiou, as irmãs gritavam histéricas e o pai
Eustáquio proferiu a sentença fatal: - Fora desta casa, imediatamente os dois!
Fora! Fora , abominações! Vão para o Inferno! Mas saiam já!
O casal recém formado saiu sob a chuva, sob raios e
trovoadas, mas no dia seguinte sob o sol tropical da Uberlíndia Aristáquio
estava empregado como Assessor da presidência na firma de Adamáquio. Um ótimo
salário uma alta posição, que abre
caminho para que todos os domingos o casal antes abominável seja recebido para
almoço na casa de Eustáquio, que orgulhoso do filho que fez carreira, não toca
mais no assunto daquela noite, e ainda brinda a amizade dos dois, dizendo: a
família é tudo!
25 abril 2018
Coisas de Pobre
Depois que o
País foi jogado de vez na incerteza e na barbárie, e que a cadela do fascismo
está mais assanhada e protegida que nunca, só resta a este cronista esquecer o
que outrora foi uma Nação e hoje apenas um ajuntamento de pessoas, e falar de
coisas amenas, ou a menos sobre as pessoas que compõe este pedaço de terra.
Dois fatos
desta semana marcaram minha fala de hoje, e que eu reputo como Coisas de pobre.
O primeiro por ser afeto a pobre mesmo, o segundo por ser de pobre mentalidade.
Vamos ao
primeiro: Dona Maria, manicure, adquiriu um imóvel popular por contrato de
gaveta. A construtora cobrou-lhe uma dívida antiga à razão de dois mil reais
por mês. Ela disse que ganhava 1.300,00 reais e não podia pagar assim. Procurou
o Conselho de Direitos Humanos e entrou com um processo: pobre, mas honrada
queria pagar, mas um montante compatível com sua renda. Pois o juiz, com muita
classe, e confirmando sua classe, não só
indeferiu sua petição alegando que ela não era a verdadeira dona do imóvel –
contrato de gaveta – como ainda aplicou-lhe uma multa de 20.000,00. O que torna
a sentença contra uma pobre de Cristo senão cruel, ao menos ridícula. Cabe
recurso. Que custará mais tempo e dinheiro –
para os não pobres, tempo é dinheiro.
O segundo caso
foi o de uma madame que resolveu festejar seu niver numa dos mais chiques
restaurantes do Rio. Perguntou se podia levar sua própria torta. A casa assentiu.
Pode trazer sua torta sim, disse a atendente com grande simpatia. Mas no final
da festa a Casa cobrou cem reais pelo uso da geladeira onde ficou guardada a
torta. Mentalidade pobre, tanto da casa em por ganância cobrar pela guarda,
quanto da madame por não querer pagar pela torta da Casa, levando a sua
própria, o que a torna, pode-se chamar uma marmiteira de luxo.
Cabe recurso
na Justiça que dará naturalmente ganho de causa ao mais rico, se a Casa ou a
Madame. Mas um recurso que sairá mais caro que se a madame ficar calada e
morrer nos cem merréis pelo uso da geladeira de ouro.
Madame, como
a manicure pode recorrer ao Conselho dos Direitos Humanos declarando que ela,
que depois de tantas plásticas tem a cara mais torta que a própria torta, tem o
direito humano de comer a torta dela, com sua boca torta, em qualquer lugar sem
pagar por isso.
Sei que são
dois motes diferentes, mas com certeza justificam o título: coisas de pobre.
-
24 abril 2018
O Faquir e o Jejum
Silki, o Faquir brasileiro
Quando eu
era menino havia um faquir.
Era um
faquir mesmo, com turbante e tudo. Lembro que ele uma vez ficou quarenta dias
jejuando. Ele não disse , mas hoje, quando vejo mais gente, sobretudo gente da
Lei, com vocação para faquir,
acreditando mais no jejum que na Constituição começo a ter a certeza que o faquir da minha infância
jejuava para derrubar o Juscelino da Presidência.
Não deu
certo , nem o
jejum, nem o
faquir, que sumiu depois disso. Soube
que apareceu anos mais tarde num cirquinho de pano de roda em Rio das Almas engolindo fogo e jejuando pela família hetero
top e contra a chegada do homem na Lua.
Hoje o
faquir de antanho dedica-se a provar com um power point que o homem nunca
chegou na lua, graças ao seu jejum.
Diz ele:
- Aquilo
tudo foi montado num estúdio de Hollywood. Meu jejum é poderoso. Muitas coisas
que jamais aconteceriam aconteceram só por causa do seu jejum.
Afirma que
graças ao seu jejum, e só o dele, de mais ninguém o papel higiênico passou a
obedecer as marcas de corte certinhas.
Que graças
ao seu jejum o óleo de soja substituiu a banha nas cozinhas de todo o País.
Também uma
vez foi chamado às pressas para jejuar e conseguir que o Chile desaparecesse e
a Bolívia chegasse até o Pacífico. Mas foi derrotado por um pão de mel que ele
não resistiu e comeu com o prazer orgástico de quem assedia uma galinha. A Bolivia sifu, derrotada pela
gula do faquir.
Jejum é
coisa séria. É praticado por povos de todo o mundo, como no Brasil, um antigo
País coim uma antiga civilização, ambos já desaparecidos, dizem até que era uma
tal Atlandida que foi submersa por um colossal tsunami de bosta de mulas e jegues.
Diz a lenda
que durante séculos o povo daquele extinto País jejuou, sobretudo os pobres, os
bem pobres eram então a maioria da população e fazia uma corrente nacional de
jejum cujo objetivo era aumentar a
riqueza e os bens e propriedades de meia dúzia de banqueiros e milionários que
ficavam ainda mais milionários. E o jejum deu certo, por séculos e séculos amém. Os ricos cada vez mais ricos
e os pobres felizes, cada vez mais pobres.
Até o dia em
que apareceu um falso messias e distribuiu comida para os pobres esfomeados que
não resistiram ao pão de mel de Garanhuns e comeram. Com a quebra do jejum os
ricos começaram a empobrecer.
Então contra
atacaram. Terceirizaram o jejum. Chamaram um bonitinho predileto de Deus para
jejuar por eles, já que eles mesmo não se metem em público a dizer asnices em
nome do Todo Poderoso.
O novo
faquir prometeu que seu jejum vai levar à prisão o falso messias, afirmou com
procuração passada no cartório da Uberlindia que Deus é apaixonado por causas
que metem na cadeia quem ousa lutar pelos pobres e oprimidos, pelos simples e
pelos humildes.
O faquir
afirmou que Deus também atende pelo codinome de Seu Coisa, às vezes seu
coisinha e é proprietário de uma rede de lojas varejistas que vendem roupas
femininas e para cama, mesa, banho e jejuns prolongados.
O novo
faquir fez estas declarações no domingo de Páscoa para mostrar ao Mundo seu
espírito cristão, caritativo e justo.
Sua próxima proeza será ascender aos céus numa nuvem rosa e pairar de braços
abertos em cima da Penitenciária da Papuda.
Mas isso já
será em outro jejum. Provavelmente depois de ter alta do Hospício Central da
Uberlindia.
23 abril 2018
O Inocente
A o fundo o sr. Karsteberg entre amigos, quando jovens.
O senhor
Karstenberg era o que se podia considerar um homem honestíssimo.
E suas
amizades sempre pautaram também pela suprema honestidade. Não entendia agora,
já ancião, a prisão de seus mais íntimos amigos por corrupção nem a ameaça de
abertura de seu sigilo bancário e de sua prisão pessoal.
Só podia ser
uma infundada perseguição, dado o seu valor intelectual e o riquíssimo legado
que deixaria para a Uberlíndia, outrora uma Nação e agora por culpa de outros
apenas um pedaço de terra com gente dentro.
Perseguição,
claro.
As acusações
eram as mais infundadas. Desde uma que mencionava o roubo de uma sonda urinária de um paciente
ao lado seu leito na UTI até uma visita noturna ao banco de sangue do hospital
para apropriar-se de sangue fresco destinado a pacientes graves.
Acusavam-no
de ter fechado os portos às nações amigas, e aberto os portos às ações dos
amigos.
Sua saúde
estava debilitada com as acusações; o sr
Karstenberg já não saia de casa, já não aparecia em público acometido do que o
seu médico particular Dr Abdelmassinha diagnosticara como o Mal de HansTemer,
uma doença rara, que acometia sobretudo vice reis, vice governadores, e vices
de merda, que se manifestava com os sintomas em que o doente se sentia um rato
e não saía à ruas com medo de ser devorado pelos cachorros da vizinhança. A
cachorrada era uma matilha que agora, mais esfomeada que nunca por cargos,
propinas, benesses, e nacos de carne popular, atiçada com as acusações
controlava de vez o quarteirão que ia da Padaria e Confeitaria Congresso até a
cerca da Clínica Jaburu Perneta, uma clínica destinada ao tratamento de
personalidades medíocres que se julgavam acima de Deus.
Karstenberg
passava agora os dias amuado, calado, paranoico mesmo. Uma senhora dirigindo um
velho e gasto Dodge Dart rondava sua casa com aquele alto-falante de vender
pamonhas gritando: tu não me escapas! Tu
não me escapas!! Aquilo era terrível. Ele o mais honesto dos honestos, o mais
justo dos justos, havia até pensado em fazer o papel de Moyses no filme os Dez Mandamentos agora
ameaçada a sua reputação com acusações vingativas, que surgiram desde o dia em
que ele negara uma colherada de sorvete Dagewm Haas a uma camareira do Palácio,
a sra. Ana Amélia do Passo Fundo. Assim chamada porque quando caminhava o peso
dos seus encostos era tanto que seus passos afundavam a calçada por onde
passava. Muito embora todos jurassem que aquela não era Ana Amélia e sim o
fantasma de Robin Williams, uma Babá quase perfeita, assombrando o castelo nas madrugadas, a ponto
do sr Karstenberg dormir trancado dentro de uma colheitadeira de soja.
Apesar do
desespero e do legado que deixaria à Nação o ingrato povo da Uberlíndia continuava como sempre :
casando e andando pro que acontecia na
Capital , a cidade de Shit Roll, que os nativos insistiam em nacionalizar o
nome chamando-a de Rola Bosta.
Foi então
que Karstenberg percebeu que nada daquilo era real, ele era apenas uma
personagem de uma série da Notflit
chamada de o Bananismo, e aquele era apenas o piloto de muitos capítulos de violência, corrupção, e golpes baixos que
viriam com o correr dos próximos episódios.
Mas uma
coisa ninguém podia negar assistindo àquele piloto: o Sr Karstenberg era um
canastrão como nunca houvera antes na História da Uberlíndia.
O grito
unanime ecoava pelos ares: canastrão!!!
22 abril 2018
O Chicote do Gaudêncio
Abro os
jornais e leio que um grupo de machos da Uberlíndia dedicou-se a espancar
mulheres em praça pública. Foi então que lembrei-me de uma lenda que me foi
contada por um amigo.
Facundo Gaudêncio
neto mais uma vez olhou aquele orifício
logo abaixo de seu cóccix. Porque aquilo? Desde menino, desde que seu avô o velho coronel Facundo também cismado com
aquele buraco morreu depois que tentou fecha-lo com cimento e piche. O velho
ainda sobreviveu por um mês antes de morrer enfezado olhando os pampas e
lamuriando: foi por causa do carreteiro.
A principio
pensou-se que se tratava do tradicional arroz de carreteiro, mas depois descobriu-se
que o carreteiro em questão era um pernambucano motorista de carretas que
passara havia tempos pelo rancho e com ele Facundão, o macho coronel centenário
tivera uma noite de prazer que abalara seu trato com aquele orifício.
Daquele dia
em diante o velho não se conformava com a tal abertura posterior e este trauma
passara a seu neto, o Facundinho, que agora geria o agronegócio da família.
Facundinho
passava horas à frente de um espelho mirando em todas a posições aquele buraco
estranho fruto da morte e desgraça, vergonha e chacota de sua família há duas gerações.
Menos na dele. Ele não admitia, era um autentico Facundo e seria macho até
morrer.
Respeitava a
ordem e a família e dizia a todos em alto e bom som: mulher de amigo meu para
mim é homem. O que deixava uma mensagem ambígua sobre o que realmente ele
queria dizer.
Para
resgatar a honra da família que escoara pelo velho ralo do velho Facundão,
Facundinho criou o hábito de bater em mulheres. Égua fêmea tem que ser no rebenque. No pau na porrada.
Seu grande trauma viera de sua avó Facunda que flagrou o velho Facundão dando o
rabicó ao carreteiro e não se fez de rogada: gritava pelas coxilhas: o Facundão
está dando o chicote.
Chicote! A
imagem ficara no pequeno cérebro de Facundinho e era com chicote que ele
afirmava sua misoginia e machidão. Mulher com ele era na chicotada. Reprimido
para usar seu fiofó, seu cachimbo, seu
furico, seu orifício excretor,o seu chicote, usava o outro chicote com prazer espancando mulheres. Em
cada uma que ele socava, espancava, pelas ruas, praças e campos de seu habitat
ele se vingava de Dona Facunda.
Foi além do imaginável,
Correpondia-se com grupos nazistas da Uberlindia, e chegava ao cúmulo de só
permitir em suas terras o crescimento de mamão macho. Ele amava os machos.
E não o
fazia sozinho, chamava para bater nas mulheres seus primos, amigos e
coleguinhas de cavalhada, os mesmos com quem se deliciava de beijos e carícias
nas noites de lua cheia, chamando aquela orgia gay de camaradagem de machos. E todos tinham em
comum dar porrada em mulheres. Sonhavam com separar-se da Uberlíndia e criar
sua própria nação, só de machos: com
capital em Machupaca um acudade no fundo da Uberlíndia!
As mulheres
eram o pesadelo na vida de Facundinho.
Não se casara. Tinha medo de virar corno, ou de que a companheirada
soubesse que seu pênis era menor que um pepino orgânico.
Ha só uma
certeza: Facundinho passará a vida preocupado com aquele furo inferior, batendo
em mulheres, e sentindo-se o rei do gado – ou seja dos chifrudos que pastam.
Quem sabe até o dia em que um carreteiro pernambucano pare nos seus pampas com
sua fálica e reluzente carreta, e aí Gaudêncio Facundo Neto largaria de vez seu
chicote à sorte de um nordestino enquanto cantaria : fiz a cama na varanda e
mordi o cobertor
21 abril 2018
A Suprema
Mary quando jovem.
A minha
amiga Mary Delaware é Juíza da Suprema Corte do Condado de Brunswick, nos
Países Altos da Nova Escócia, não sei bem onde isto fica, mas creio que deve
ficar bem ao lado dos Países Baixos da Velha Escócia. Mais exatamente entre a
Rocinha e o Vidigal.
A última vez
em que falei com Mary Delaware ela se queixava muito dos processos que chegavam
em suas mãos e das decisões, das sentenças que tinha que proferir. Eram
processos os mais variados. Ela estava revoltadíssima. Ela me dizia:
-Eu ganho
uma miséria. Coisa de trezentos mil euros por mês, isso não é nada, isso é uma
merreca, não dá nem pra auxílio moradia. E eu tenho mais o que fazer na vida. A
minha cabeleireira só tem um dia na semana em que ela pode me atender para
reformar a minha mecha. ( Vale dizer que ela tem uma linda mecha no cabelo. ) A minha manicure só me atende às terças feiras;
o meu ginecologista indiano só às quartas feiras... sim, eu tive um prolapso de
útero quando visitei a Penitenciaria do Condado ... eu tenho a semana toda
ocupada e essa gentalha pensa que eu tenho tempo pra ficar lendo, julgando,
emitindo sentenças...ora! Me poupem!
E ela
continuou - Há casos insolúveis, impossíveis de serem julgados. Por exemplo:
uma mãe me pede que libere um medicamento importado para o filho que tem uma
doença degenerativa. Como se o Tesouro do Estado pudesse gastar dinheiro com
doença de criança, ora, que é isto? Deixa a vida seguir. Cumpra-se a vontade de
Deus! Como eu sou cristã coloquei no fim da sentença: Tenha Fé!
Num outro
caso uma mulher grávida que ainda tem três filhos, cada um com um marido
diferente, pede que deseja cumprir a sentença em prisão domiciliar, só porque
ela está grávida e tem três filhos. Imagina se a gente for libertar todas as grávidas
que estão presas? Além do mais esse tipo
de gente é capaz de fazer filho na penitenciária só para engravidar pra ganhar
a liberdade. Mas...como eu sou progressista escrevi na sentença: “Lembre-se de
quantas crianças nasceram em Campos de Concentração Nazista da Alemanha e nem por
isso deixaram de se tornar Homens de Bem.
Num outro
caso uma senhora de 96 anos solicitou um habeas corpus, ou um novo julgamento,
por ter sido condenada a 4 anos por ter roubado um pacote de manteiga. Ora, minha
senhora: tenha pudor! Na sua idade já deve saber que 100 gramas de manteiga roubada
é crime tanto faz ser 100 gramas de manteiga como ser 1200 gramas de cenoura. Taquei-lhe
a sentença máxima para aprender e para servir de exemplo: quatro anos de
cadeia. E porque eu condenei a quatro anos? Porque sou uma pessoa do Bem, tanto que escrevi ao final da sentença: quatro
anos com noventa e seis são cem. imagine a alegria da sua família no dia da sua
saída da Penitenciária, justo no dia do seu centenário, todos cantando parabéns,
com doces e balas para a senhora!
Há também o
caso de um carvoeiro nojento que foi acusado do roubo de dois patinhos e foi
condenado a doze anos de cadeia. Ele recorreu. Ele só quer ser preso depois de
ter recorrido e perdido na última instância. Eu escrevi :o que o senhor está
pensando que isto aqui é? Uma linha de trem? Que vai julgando de estação em
estação até a última estação...não acaba nunca?! Pare com isso, meu senhor, o
Tribunal não é uma agência de turismo. Não! Pode parar! Pode parar por aí mesmo,
na sua estação, na que nós estamos. Desce ele algemado e já manda pra cadeia.
Vai roubar dois patinhos na casa do cacete!
E para cúmulo,
veja você, uma mãe me pediu que
condenasse um policial que havia assassinado um adolescente num auto de resistência.
Procurei saber! Procurei saber! Abri um inquérito: morava onde este pequeno
criminoso? Num cortiço! Era branco? Caucasiano? Não! Ora, essa gente é toda perigosa
...o pobre do policial estava em serviço, apenas se protegendo, porque ele é um
ser humano, ele tem família, ele tem filhos...ele ganha uma miséria. Aí sentenciei
para a mãe: Indeferido. A senhora por acaso é policial? Não é! Sabe o que é ser
um policial? Não sabe! E muito provavelmente o seu filho se meteu na frente da
bala, ele é o culpado pela própria morte. Essa gente pobre adora se jogar na
frente de bala. E finalizei a sentença de forma magistral: Se não está satisfeita vá se queixar ao bispo!
Pois não é que esta safada desta mãe entrou com embargo perguntando: qual
bispo?
- Qualquer um
minha senhora. O primeiro bispo que a senhora encontrar vai lá se queixar. Eu não
tenho nada a ver com isso. Passe muito bem!
Aí, nesse
momento, meus amigos, a competente operadora deixou cair o sinal de rede e não
nos falamos mais – Mary e eu - mas
terminei a conversa com a clara sensação de que Mary Delaware, Juíza da Suprema Corte do Condado de Brusnwick
nos Países Altos da Nova Escócia é realmente uma juíza exemplar e justa. Daqui
mando um abraço:
-Um abraço, Mary! Sua mecha está linda!
20 abril 2018
A Glória Eterna da Lata de Lixo da História
Chiquinha Gonzaga, Heroína Nacional
O Rei, o
mais medíocre que já tivemos desde 1927 rivalizava em brilho apenas com a Rodovia
Washington Luiz e com Fulgêncio Batista.
O Soberano,
outrora um jovem idealista que acreditou que se não seguisse a carreira de contador
de coliformes fecais até que daria um bom advogado, trocou seu idealismo e seus
sonhos de juventude por um doce bradando a célebre frase que o imortalizou às
margens do Riacho da Mãe Joana: Viva o Sorvete Dagen Hausss!!!
O Rei havia
mandado às favas os escrúpulos, a pátria, a constituição e até aquele menino,
chato como todo filho de velho, e que cismava que tinha direito a um Ministério
no reino da Uberlíndia.
Tudo ia bem
para o rei até que nuvens sombrias se abateram sobre ele e seu poder: uma conspiração.
Foi denunciado no WhatsApp, já que o WhatsApp era a Instância Máxima no Reino
da Uberlíndia. Fora denunciado por receber propinas na construção de
ancoradouros para caravelas e barcos voadores provenientes da Grande Nave Mãe
ancorada ao lado do Reino da Uberlindia e comandada por um panaca de cabelos
cor de cenoura cujo único mote na vida era:" - Vou bombardear a Coreia do Norte e
vou invadir a Venezuela."
E o panaca enquanto dizia isto apalpava bundinhas no
salão oval que tinha justamente este nome de oval porque era lá que ele contemplava
seus ovos, ovinhos tão minúsculos, mais minúsculos que rabanetes orgânicos.
O
Rei Eustáquio III, este era um de seus nomes, ele tinha vários nomes, um deles
era Batman, ele ganhou este nome quando num jantar vegano ele irritou-se e
saiu, transformou-se num morcego gigantesco e saiu batendo asas.
Mas como eu
ia dizendo, o Rei não se importava muito com aquela denúncia pois afinal fora publicada no WhatsApp, e o WhatsApp que era a única instância de justiça do Reino é
cheio de fake News e aquela poderia ser mais uma, sendo ao final esclarecido que
o Rei era honesto, justo, maravilhoso, e que tudo não passou de um engano. E
que ele foi, é e continua sendo a pessoa mais honesta jamais posta sobre a face
da Terra, à exceção superado apenas pelo Marquês Adelmário de Barros, e pelo
Duque Saulo Paluf, por coincidência ambos provenientes da mesma província do Reino:
o Tucanistão.
-É tudo fake
News! Tudo fake News! Bradava ele enquanto cortava a garganta de um bode preto
durante uma missa satanista.
Mas eis que
de repente, não mais que de repente, a las cinco en punto de la tarde, sem
mais, sem quê nem para quê denunciaram o Delfin, logo o Delfin o primogênito, o
herdeiro, o sucessor, o Delfin!
Estavam
chegando muito perto de tudo. O Delfin, tão fofinho, que a gente não conseguia
olhar para ele sem imaginar um saco de bacon.
O Rei
grunhia desesperado:
- Em que
tempos estamos?
E dizia isto
enquanto lavava o rosto com óleo de peroba.
- Não há
mais qualquer respeito a qualquer cidadão de bem. Cidadão de bem! Homens de Bem,
como eu e Delfin, estamos à mercê de conspirações baratas. Sim! Porque isto
contra mim e contra o Delfin não passa de uma conspiração barata para destruir
a Família, a Pátria e a Propriedade Privada, sobretudo a minha propriedade
privada.
Aí o o Rei
mandou chamar imediatamente o seu Ministro da Educação que tinha cara de
padeiro do interior e que por questões humanas tinha por pretensão ser o
Inquisidor Mor da Avenida Boa Vista na bela recife. O Rei deu a ordem:
-Prenda
todos os reitores do reino, Todos os reitores e professore, queime-os!
Essa ordem
dada, vale dizer, não tinha nada a ver com a conspiração que envolvia ele e o Delfin,
mas ele não se apercebia. Todos no reino sabiam que ele fumara estragado quando
fora a um piquenique em Paquetá e tentou estuprar a Chiquinha Gonzaga que quando
se viu assediada por um morcego deu-lhe uma guarda-chuvada na cabeça enquanto
cantava: " _ ô Abre Alas que eu quero passar!"
A porrada na
cabeça fora tão grande que ele nunca mais se recuperara passando então a ser denominado
de Dona Maria II, a Louca, entrando assim, de vez, para a Glória Eterna da Lata
de Lixo da História!
18 abril 2018
O Dedo-Duro
O Cabo Anselmo, símbolo do dedo-duro no País.
Desde pequenininho, quando ainda
matava pintinhos passando com as rodas do seu velocípede por cima deles,
encantado com a possibilidade de
exterminar os seus diferentes, Adalberto Palofi Silvério dos Reis, fora
diagnosticado pelo psiquiatra alemão Von Stadt que tinha uma clínica de abortos
e de próteses dentárias na Baixa dos Sapateiros, em Salvador, como uma
personalidade equilibrada , patriótica e que ainda prestaria grandes serviços à
Nação, nação que o psiquiatra germanosoteropolitano insistia em chamar de
Uberalles e não Uberlíndia.
Não deu outra. Seguindo a genética
dos Silvério dos Reis, orgulhosos de serem dedo-duros, agora pelo eufemismo
tucano chamado de delatores, seguindo a mesma linha de raciocínio de que desempregados
fazendo bicos como pipoqueiros, marmiteiros, passeadores de cachorros, e
coçadores de costas de aposentadas desembargadoras coxinhas são agora chamados
de empreendedores, Seguindo a genética
familiar Adalberto Palofi Silvério dos Reis
assim qu cresceu, não deu outra, filho de imigrantes pobres estabelecidos nos
confins da terra, que fizeram fortuna dedurando gente lá no sertão, saíra
do Tucanistão onde nascera com a língua presa, a enfermeira nazi austríaca prendera
com o alfinete a sua língua na fralda. O que o levou ao seu primeiro prazer
anal que foi comer merda ainda no berço.
Jovem formado foi para a capital da Uberlindia, The National Surub, o
que em bom berlindes significa a Suruba Nacional.
Seu objetivo era cumprir a honrosa
missão familiar que ele perpetuava desde que seu tataravô denunciara Galileu e
Giordano Bruno à Inquisição, e que sua tia dedurara seu cavalo Aloisius Ferrado
por ter feito cocô na sala do Papa Bórgia: partiu para cumprir a missão de gloriosa de dedurar, delatar num bom tucanês.
Uma vez em National Surub entrou de
cabeça , servil, nos meandros da pudibunda politica local.
Ali ganhou dinheiro suficiente que
daria para comprar até um quilo e meio
de contra filé no supermercado o
Bife do Outro, que anunciava com
estardalhaço na tv: compre um quilo de alcatra e ganhe de brinde uma Ferrari de
ouro .
Milionário, mas sempre sacaneado por
sua língua ainda presa ao berçário Vem Cá Nenem, me dá seu rin. Adalberto
Palofi chegara ao seu momento de glória, e de orgasmo. Dedurar para ele era o
orgasmo supremo. Tinha um prazer inenarrável. Supimpa mesmo! Sentia a calça a
se molhar toda quando aproximava-se de um inquisidor da Uberlindia, sobretudo
quando o Inquisidor exalava aquele odor de mula engravatada, e suplicava : quero fazer uma delação em troca
de preservar meus milhõezinhos amealhados com tanta maestria de corrupção.
"Entrego a cabeça de quem vocês
quiserem, até do que resta de mamãe." A pobre senhora hoje era apenas um toco de
gente, tanto que já fora presa e torturada delatada pelo filho, mas abençoava-o
dizendo com a metade da boca que lhe sobrara: "é um legítimo Silvério dos Reis." Mas cruelmente acrescentava: "pena que tem a língua presa."
Adalberto Palofi Silverio do Reis não
tinha escrúpulos, lealdade, ou limites: o importante era dedurar e cumprir
assim a saga familiar, desde os Bórgias, desde Galileu, desde Tiradentes: e
agora lutava para trocar sua liberdade e proteger seus milhõeszinhos dedurando
aquela porra de nordestino odiado pela metade mais bondosa do Tucanistão,
e que aliás não fora por falta aviso
que aquele líder popular criara aquela
cobra.
E agora a cobra repetia feliz
aguardando a vez de ser chamada a dedurar: "quem pariu Mateus que o embale, é da
minha essência , sou um Silvério dos Reis!"
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