Minha mulher Dôia, banhando-se nas cascatas do Rio São Bartolomeu, em Alto Paraíso
O primeiro líquido que conhecemos é o amniótico, quando ainda estamos sendo gestados no ventre materno. Somos gestados na água. Sessenta e cinco por cento do nosso corpo é água. A humanidade e todos os seres vivos viemos das águas primevas. Toda a vida no Planeta surgiu das águas. As águas do Planeta foram, e são, o grande líquido amniótico da grande mãe Terra que nos trouxe a vida.
E não agradecemos esta dádiva. Não cuidamos, não resguardamos, não respeitamos este presente da Criação. Agimos como se fossemos órfãos, ou melhor: como se nada tivéssemos a ver com as águas, como se elas fossem estranhas a nós, ou nossas inimigas.
A catástrofe de Mariana fez-me pensar sobre como a Terra pode se vingar da maneira como a tratamos. Pois se no lugar do líquido amniótico tivéssemos no ventre materno uma lama tóxica? O que seria de nós? Da vida?
Neste rastro descubro que o Rio São Bartolomeu, que banha Brasília e que tem 200 km de extensão, está secando, está poluído, está morrendo, devido a um processo intensivo de ocupação do solo por atividades agropecuárias, mineradoras, e parcelamentos com a transformação de áreas rurais e zonas urbanas. Estas áreas levaram à perda da vegetação natural e à impermeabilização do solo.
Logo o São Bartolomeu, onde em Alto Paraiso de Goiás, eu e Doia nos banhamos e passamos horas de lazer em suas cascatas. Imaginem uma cidade verde, harmoniosa, no Brasil Central fazendo racionamento de água porque a Natureza não está podendo mais ser generosa como antes.
As águas são, por assim dizer, o princípio feminino da Natureza. Porque todo esse descuido, esse ódio encoberto no trato com este princípio?
Se queremos receber amor temos que dar amor. Se não a Natureza se vinga, os rios secam, os oceanos tornam-se estéreis, a lama tóxica destrói a vida, e a protetora água materna nos será negada e nos levará ao fim.