10 janeiro 2015

Je Ne Suis Pas Charlie



Uma das facetas do meu trabalho de ator é trabalhar com o humor.
Aprendi com os acadêmicos do humor que a graça deve ser sempre feita com elegância e respeito.
É coisa que vem de séculos da arte de ser palhaço.
Mesmo com o grosseiro e ofensivo humor  de Charlie não posso compactuar e não posso aceitar que terroristas assassinem pessoas, sejam jornalistas, ou não. Que semeiem a violência do terror entre os povos.
Lamento profundamente a morte dos dez jornalistase dois policiais  em Paris.
Mas se homens que trabalharam pela Paz e pelo Bem como Gandhi e Martin Luther King foram mortos a tiros pelo Mal, o que poderia acontecer a quem há décadas instiga o ódio religioso, racial, faturando grana em edições em troca da humilhação racistas, islamofóbica, anticristã, e anti-humanista? Ou será que  dá pra esquecer a política colonialista francesa esmagando com caminhões-  para não gastar balas-   milhares de prisioneiros árabes argelinos nas guerras de libertação?
Navegar no sentimento francês de xenofobia e islamofobia dá boa grana, Mas um dia a casa cai. Se o  Mal cobra do Bem, como no caso de Gandhi e Martin, imaginem, o que cobrará do Mal?
Vi no Charlie uma charge onde em uma orgia Deus, Jesus e o Espírito Santo - Trindade sagrada para os cristãos – participavam  os três de um coito anal.
Não gostei, fiquei chocadíssimo. Não ao ponto é claro de explodir a redação do Charlie. Mas chocadaço. A minha cultura e formação é cristã ocidental. Eles não têm esse direito. Na Bahia temos um ditado: “Respeito é bom e eu gosto”.
Os ataques do Charlie não se localizavam apenas contra muçulmanos, mas contra todas as crenças, todas as Fés, contra os povos do terceiro mundo e contra todo o sagrado de povos que eles a serviço do racismo e da intolerância ajudavam a desmoralizar, usando a capa de uma ultra esquerda.
Para os cristão não há ofensa pior  que a blasfêmia ao Espírito Santo. Marcos 3. 28, 30. Então quando uma charge destas é publicada o objetivo qual é? Liberdade de expressão? Divertir os cristãos? Ou ofender seus valores e ridiculariza-los? Pelos frutos conhecereis a árvore.
Nestes anos Charlie chamou os negros de macacos, os árabes de fedorentos, os judeus de avarentos, os cristãos de sodomitas...esperavam o quê: Bênçãos?
Isto a meu ver não é liberdade de expressão, é libertinagem. (Vide o sentido em  Caldas Aulete). Por exemplo: temos a liberdade de ir e vir, mas seu eu entrar numa propriedade sem autorização passa a ser invasão de propriedade e não há "liberdade de ir e vir" que me defenda nisso.
Para completar, numa  França composta por 40% de ateus, em crise ecnonomica,  com o avanço da extrema direita, e a queda de popularidade de François Hollande, o atentado sai do campo humanista e passa para a política eleitoral. Para recuperara popularidade e a liderança abaladas François Hollande toma a inciativa e convoca manifestação monstro para este domingo. Enquanto a fascista Marie Le Pen  busca com seu discurso antiislâmico, racista e antiemigrantes conquistar mais votos para seu Partido de Extrema Direita. Os doze mortos paracem virar massa de manobra  eleitoral.
Por tudo isso torno a condenar o ataque terrorista e a lamentar a perda de vidas. Posiciono-me com veemencia pela liberdade de expressão, contra a censura. Repudio a estupidez terrorista,  mas não consigo ser Charlie.
- Je ne suis pas Charlie!

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5 comentários:

  1. Totalmente deacordo. Também não sou Charlie.
    Neide Imbrisha

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  2. Totalmente de acordo.
    A revista brasileira mais sacanagem que me lembro chamava-se "Los três amigos" (Glauco, Laerte e Angeli). Uma putaria só! Chocava os reacionários, mas era engraćado pacas! E não ofendia ninguém.
    Lembro do Fradim, que era um tapa na cara da ditadura e da igreja, mas com todo o carinho, porque não atacava a fé religiosa, mas ia fundo no falso moralismo da época.
    Quando vi o Charlie, pensei: isso aí é engraćado na Franća? Aqui no Brasil é coisa de palerma, de imbecil.
    Tá mais pro (baixo) nível do Zorra Total: alguém acha aquela porcaria engraćada? Prá ser engraćado tem que ser humilhante? Tem que ter um "alvo", como diz aquele outro lixo que se diz comediante???
    Rir da desgraća alheia não é humor: é sadismo!
    Charlie não merece essa bajulaćão: merece o troféu Darwin do ano.

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  3. Eu tambem não concordo.
    Liberdade de expressão é uma coisa..exagerar é outra
    Eu, p. ex. não gosto da Dilma, não votei nela mas condeno a maneira como a expõe
    EM CHARGES de modo depreciativo na internet.Afinal de contas é a Presidente da REPÚBLICA.

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  4. Se você não gosta de charges picantes, não leia Charlie. Se você é vegetariano, não coma carne. Se você é católico, faça sexo apenas pra reprodução dentro do casamento. Se você é judeu, não trabalhe no sábado. Se você é espírita, fale com os mortos.
    Mas, se você é tolerante e respeitador, não discuta nada disso comigo e deixe me viver a minha vida.

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  5. Parabéns pela lucidez do texto. Falou tudo que gostaria de dizer. Je ne suis pas Charlie.

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