17 julho 2011

CENAS DE UMA DITADURA 18 - DO BLOCO DO BOI À UNIÃO DA ILHA


O Partido sempre valorizou essa coisa de estar presente em todas as instituições e movimentos de massa ou de cultura.

Sempre  aparelhando  esses locais ou eventos.

E lá fomos nós para a casa de Dona Antônia.
 Uma senhora já idosa. Nascida no século XIX, e que promovia todos os sábados na sua casa no Cocotá,  um sarau lítero-musical que faria inveja a Gonçalves Dias. 

Usava vestidos à 1900, longos, cobrindo os tornozelos. Um coque, nos cabelos grisalhos.E trazia nas pernas faixas para conter  uma erizipela adquirida na velhice.

Tudo muito bizarro para o meu gosto.


A coisa começava por volta das 20h. Vinha gente do bairro e sobretudo da  Zona Sul. Para nós, jovens, era uma chatice colossal. Tocava-se lundus e valsas, entremeados com operetas que ela mesma cantava;  danças  de valsas,   e declamações de poesias parnasianas. Mas era tarefa do Partido e lá estávamos nós, aos 18 anos, metidos com estranhíssimas figuras  que mais pareciam saídas de romances de Proust. Era uma turma do tempo do absinto.

Até hoje não sei para que serviu nossa presença por lá durante meses à fio.

Gostava muito mais do trabalho do Partido no Bloco do Boi (Hoje Escola de Samba), onde eu saía pulando brincando de “sujo”, tendo à frente do Bloco -  travestido -  o famoso Carlinhos da Lelé, muitos anos  mais tarde -  já no regime democrático - preso por tráfico de entorpecentes. 

Ou então na reconstrução da Escola de Samba União da Ilha. Na Estrada do Cacuia. 

A Escola estava parada há anos. Funcionava sua sede numa casa de alvenaria na Estrada do Cacuia. Os poucos membros mal sabiam o que fazer para deslanchar a Escola de novo. E lá fomos nós. Assinamos Ata de refundação e trabalhamos durante um ano para reerguer a Escola, conseguindo cimento, tijolos, etc. etc.. E a “Ilha” foi em frente trazendo ao povo tantas alegrias.

Torno a repetir: a militância social, através do Partido, foi uma escola de vida, plena de experiências humanas que povoam a minha memória.

Um comentário:

  1. O Boi da Freguesia hj em dia virou escola tb, mas já teve melhores dias, agora está no quarto grupo de acesso eu acho.

    E a história do carnaval carioca agradece ao "aparelhamento" do partidão na cultura por ter feito a União da Ilha ser essa escola tão apaixonada e apaixonante, de sambas tão inesquecíveis, desfiles memoráveis e cheia dos "campeonatos morais", como nesse ano que passou que levou mais uma vez o Estandarte de Ouro de melhor escola.

    "Canta minha Ilha! Segura a marimba!" dizia Aroldo Melodia e agora seu filho Ito, o melhor puxador de samba da nova geração.

    Essa União que dá tanta alegria e é tão bonito ver essa bandeira tricolor linda enfeitando seu blog, Bemvindo. Emociona esse torcedor encantado e sofrido. Parabéns por ter contribuído para a existência dessa escola que é um ícone de alegria popular.

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