24 fevereiro 2011

MENINOS, EU VI: O TERROR E A MATANÇA. TRAGO A IRA COMO PERDÃO

“Jurei na minha ira, que não entrariam em meu repouso”. Sl. 95.11

Ontem à noite, no tuiter, dois seguidores me tiraram do sério.
Estava eu assistindo "Al Jazeera" e vendo os jovens que o tirano Kadafi está matando no seu apego desesperado ao Poder material.
Fui remetido aos meus amigos: André Grabois, Montenegro, Valter, Líbero, e muitos outros aos quais mais  uma vez aqui rendo homenagem à memória deles.
Fiquei pensando nos velhos como Castello, Costa e Silva, Médici – o mais cruel – que levaram centenas de jovens brasileiros à morte, assassinados apenas para que estes senhores , que deveriam ser bondosos e estarem cuidando de seus netos, se mantivessem no Poder material.
E pensei em todos os ditadores velhos, vivos ou mortos, ou mortos-vivos,caindo de podre, que sempre assassinaram os jovens.
Sobretudo: os jovens.
Penso que os  velhos ditadores matam os jovens por inveja do vigor da juventude.
Grabois, Valter, Montenegro, e tantos outros não puderam viver o que vivi até hoje. Tiveram a vida encurtada na luta pela liberdade e  pelo socialismo.
Pela fraternidade e igualdade entre os humanos.
Tenho nostalgia deles. Quisera que  estivessem vivos como estou, para ver o Brasil de hoje.
Pensei também em como os capitalistas e os imperialistas, há séculos,  fazem guerras matando milhares de jovens apenas para que tenham poder, pelo petróleo;pela venda de armas; pelo titânio; pela ganância das grandes empresas.
Pensei no cinismo dos sistemas: EEUU e Inglaterra que mataram e matam milhares de vietnamitas, panamenhos, nicaragüenses, iraquianos e afegãos e agora estão preocupados com a matança na Líbia.
Postei então dois tuiters: um sobre os ditadores que sabidamente são responsáveis pela matança de jovens, e outro sobre o cinismo capitalista. Este era o foco: os jovens mortos e a matança capitalista.
Mas sem seguir  o foco da discussão, afoitos na sua juventude  em colocar suas questões, dois seguidores pegaram carona numa questão profundamente sensível e de cunho  imediato para levar a sardinha  para a sua brasa: um lembrando de Fidel e Raul – que não citei por falta de espaço dos 140 caracteres,  e porque não promovem matança de jovens; outro insinuando o “cinismo dos socialistas” que apóiam os regimes ditatoriais. 
Das duas uma: ou não são capazes de concentração e de atenção ao foco da discussão, ou como detectou meu feeling, uma provocação de direita, que talvez nem eles mesmos percebam por leviandade que se  aninha sorrateira sob o verniz de imparciais democratas.
Das duas haveria uma terceira hipótese? Não pude perceber.
Um deles citou palavras minhas sobre a presença da CIA nestes movimentos árabes (E não tenho dúvidas de que a CIA está lá para mover as pedras em direção aos EEUU e seus interesses.) para insinuar que eu defendia Kadafi porque ele poderia estar sendo vitima de manobras da CIA, e assim confirmar o "cinismo socialista".
Estratagema que Schopenhauer trata muito bem em sua obra : “A Arte de Ter Razão”.
Leviandade. Manobra de distração, para usar um termo militar.
Não sou cínico. Sou hipócrita. É minha profissão.
Mas não cínico.
Postei abaixo, neste blog,  um artigo contra todos os ditadores.
Afirmei e afirmo que não há desculpas para tirania e tiranos existirem.
Afirmei e reafirmo que a democracia é um bem universal.
Portanto, é leviandade levarem para este caminho a discussão e a provocação, que aceitei de bom grado, porque se sou bem humorado, por outro lado adoro uma boa briga.
Mas eles se aproveitaram desta postagem  para atacar os socialistas e o socialismo.
E quem, como eu, dediquei minha vida, minha carreira, meus amores, meu dinheiro, minha saúde na defesa destes ideais, não pode aceitar que isto passe em branco, porque os dois não são desconhecidos  trolls que entraram para a pura provocação , mas sim seguidores constantes dos nossos debates e a quem eu muito prezo, e havia aprendido a respeitar e estimar.
Senti-me traído e julgado de má fé. Bem como todos os companheiros que me antecederam, e viveram e morreram, nesta profissão de fé de pura e ingênua doação que foi e é a defesa de um mundo melhor.
Daí minha indignação e o viés da ira.
Peço aos amigos que façam uma reflexão, e volto agora ao meu sossego , porque “jurei na  minha ira que não entrarão em meu repouso.”

Para evitar maiores constrangimentos não menciono o nick dos dois. E peço desculpas a vocês por artigo tão longo e pelo mal estar que a discussão possa ter provocado. Nesta 5ª feira estarei viajando, não haverá mais posts do que este.
Voltarei à normalidade do blog a partir de domingo.
Abraços.



6 comentários:

  1. Agradeço a oportunidade de ler textos de alguém que até na sua IRA demonstra sabedoria e benevolencia!
    Aprendo com voce luz da minha time line!
    obrigada
    Jac Jan

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  2. Só existirá democracia quando todas as Leis sejam aprovadas pelo povo. O Socialismo Democrático só será tangível ao povo quando as escolhas forem universais.

    Quanto aos Trolls compa, vc deu razão demais.

    Abraçao!

    ResponderExcluir
  3. Só existirá democracia quando todas as Leis sejam aprovadas pelo povo. O Socialismo Democrático só será tangível ao povo quando as escolhas forem universais.

    Quanto aos Trolls compa, vc deu razão demais

    Abraçao!

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  4. Bemvindo,
    Me filio ao Jac Jan " até na sua IRA demonstra sabedoria e benevolência!"

    Seu texto não é longo, está na medida certa.

    Como bem disse Vc "a democracia é um bem universal ".
    Nada mais há que se acrescentar.
    Toca a vida .
    Boa viagem.
    abçs
    ":))Myrinha

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  5. Benvindo, concordo com cada letra do teu texto.
    Pela Liberdade !!! Quem viveu sua falta sabe da tragédia. Até hoje o país é vítima do mal daquele tempo.
    Contra ditadores e assassinos de qualquer cor !!
    Saiba-me solidário a vc em qualquer trincheira!!
    De longe e de formaNet sou amigo, que isso logo senti e foi facinho de aprender.
    Puta abraço

    Mané Young

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  6. Caro Bemvindo, como sabiamente você ocultou meu nick no post, assino este comentário como anônimo.

    Quando entrei na internet ontem o seu tweet que comentei era o mais recente. Não me dei ao trabalho de procurar os anteriores para entender o contexto. Em um impulso fiz o lembrete dos nomes de Raúl e Fidel. A intenção era fazer uma provocação a um tema caro aos esquerdistas e simpatizantes em geral (meu alvo era seu leitor médio). Cuba tem a admiração de muitos que lutaram contra a ditadura militar no Brasil, o que para mim é incompreensível. Ditadura é ditadura. Assassinato em nome de ideologia é igualmente repugnante sendo de direita ou de esquerda.

    Mesmo sem ler seu post sobre ditadores, não achava que você fosse um desses ingênuos que acreditam que há virtude em uma ditadura só pelo fato dela ser socialista ou comunista. E estava certo.

    Sua indignação foi movida pela sua experiência de vida. Por suas perdas. Perdas caras e insanáveis, em uma época de sua vida que deveria ser apenas de conquistas (como deveria ser a de todos os jovens). Você se sentiu atingido e mais uma vez me desculpo pois a ofensa não era intenção. No entanto, confesso que me surpreendeu a forma desequilibrada e desproporcional de sua reação, pois a intolerância não deveria encontrar lugar no espírito de quem fez do bom humor sua marca mais conhecida.

    Sou democrata. Sou humanista. Não compactuo com o idealismo de esquerda como quando tinha 20 anos. Como o próprio Lula disse: “Se você conhece uma pessoa muito idosa que seja de esquerda, é porque ela está com problemas. E se você conhece uma pessoa muito nova que é de direita, ela também está com problemas”. Segundo Lula, mudei na idade certa.

    Apesar de politicamente ser rotulado como direita não me considero reacionário. Respeito o contraditório. O oposto. O outro. Se não fosse assim não o respeitaria. Acho que é importante e necessário conviver com idéias diferentes para que possamos firmar nossas convicções e por vezes abdicar delas.

    No mundo que defendo existe lugar, vez e voz para quem pensa diferente de mim. Exponho um pouco do que penso para que eu não seja confundido com sectários e extremistas que se julgam donos da razão. Da única razão.

    Acredite, queremos a mesma coisa. Um mundo melhor, mais justo, fraterno, em que a liberdade e a igualdade sejam verdades absolutas e universais. Você enxerga um caminho até lá. Eu outro.

    Quem sabe essas veredas talhadas de ambos os lados um dia não se transformam em uma estrada ao se encontrarem?

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