O xerife Chico
Propina do condado de Rola Bosta no sudeste da
Uberlíndia estava em dificuldades. Os atentados com flechas aconteciam em todo
o Reino e ele não tinha ideia de como apurá-los.
As vitimas
iam desde carruagens, acampamentos e caravanas até pessoas, como uma moça e seu
cocheiro.
Quando a
moça e o cocheiro apareceram caidos dentro da carruagem ele passou os trinta
primeiros dias da investigação com a hipótese de que eles estavam apenas desfalecidos.
Como o condado já estava sobrevoado por urubus – embora as crianças insistiam
em chama-los de tucanos - ele finalmente
decidiu que ela e o cocheiro estavam mortos.
Mas como morreram? Seis meses
depois ele afirmou: foram flechadas, porque era claro: havia 3 flechas nas costas do cocheiro e mais
quatro no rosto da moça. Ele aventou então a hipótese de suicídio.
Foi então que uma caravana que circulava pelo sul da Uberlíndia foi
atacada com flechadas. O xerife de imediato concluiu que os membros da caravana
haviam saltado, e gargalhando como hienas num piquenique à base de sanduiches de mortadela, haviam mirado no próprio comboio num exercício
de flecha ao alvo. Seguiu-se a este um
outro ataque a flechadas num acampamento de ciganos mais ao norte da Uberlíndia.
O xerife foi lacônico na sua conclusão: ciganos são capazes de tudo para
aparecer.
Após um ano e três meses de investigação Chico Propina chegara à brilhantes conclusões.
Primeira: de que eram
fechas; segunda: tinham o mesmo calibre,
digo: a mesma marca artesanal, logo eram
provenientes de uma mesma origem. Dois anos e sete meses após o primeiro facto
o Xerife Chico Propina declarou à prensa de Gutenberg: estamos no caminho
certo, não posso falar nada ainda, mas sem dúvidas são flechas.
Porém após três
anos de investigações, e de tais brilhantes
deduções o xerife foi substituído pelo xerife Mauricio Coxinha que prometeu à população
que as investigações seriam agora levadas com mais rigor científico e para isso
ele começaria o trabalho do zero, ou seja começando por apurar se as vítimas,
agora já enterradas e pranteadas estavam mesmo mortas, e se confirmadas as
mortes, haviam morrido apenas para
desmoralizar o governo da Uberlíndia, já que eram sabidamente provocadores
ligados ao bando de Robin Hood.
Hoje,
passados 4 anos do primeiro facto aguardamos a declaração do xerife Maurício
Coxinha sobre o caso. Fontes confiáveis já anteciparam que ele vai afirmar que
está chegando perto da solução, mas que não falará mais nada porque a investigação corre em sigilo.
A Uberlíndia
é um País atrasado e de má vontade política, se fosse numa tal terra de Santa
Cruz este caso já estaria resolvido em uma semana com a prisão dos mortos, da
caravana, dos ciganos e de quebra de um nordestino cabeça chata que estava
passando por perto e foi parar numa solitária.
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