A Uberlíndia
era um País absurdo, sem solução, pensava o parlamentar com seus botões, e seus
botões não era os da sua camisa de seda pura, mas sim seus dois assessores
parlamentares: João Botão e Zé Botão. Dois dedicados representantes do
lumpesinato religioso e que religiosamente serviam ao parlamentar Zé Canguinha,
eleito com três milhões de votos, praticamente toda a massa trabalhadora da
Uberlíndia: dois milhões, novecentos e noventa e nove mil, novecentos e noventa
e sete motoristas de Uber e três de Cabify.
Não era
séria a Uberlíndia.
Ele havia
combinado com um lobista que receberia duzentos milhões de Silvérios (Silvério era
a moeda de troca da Uberlíndia) desde que ele votasse pelo fim completo das riquezas
minerais daquele rincão, outrora respeitado pelo Mundo e agora reduzido a mero exportador de estrume para a Somália. Ele votou,
o lobista pegou o dinheiro com a mineradora Humboldt and Merckz com sede em
Yowa nos Estados Unidos e desapareceu. Soube-se que fora visto tomando sorvete
Dagen Haas numa ilha do Caribe. Não era séria.
De outra
feita quando o parlamentar era o Ministro da Doença, a Uberlindia tomara-se
exemplo Mundial no combate a saúde, só restaram as doenças. As mais ricas,
raras e variadas: tuberculose, chicungunha, dengue, baiancu (este importado do
Cabukistão), a febre amarela que voltou aclamada pelo público, a febre verde
amarela, uma epidemia de coxinhas, e dizem até que em breve seria ressuscitada
por lá, a varíola. O esforço do Ministério da Doença para isso era imenso, e com
mais uma granazinha aqui, uma propinazinha ali, o surgimento da peste era mais
que certo.
Pois não era
séria a Uberlíndia: um carregamento de remédios para crianças com necessidades
especiais fora combinado que seria desviado para Boston a serem revendidos em
valiosos dólares revertidos para os embornais do parlamentar. Os containers que
chegassem ao Aeroporto Internacional da Uberlindia, - Aeroporto Covil dos Ratos
– deveriam conter apenas supositórios de glicerina. Os ciosos despachantes
haviam despachado realmente parta Boston os remédios especiais, ficaram com
toda a rana e disseram ao parlamentar:
- Não está
satisfeito vá queixar-se ao Bispo.
Esta era a
frase mais comum na Uberlíndia:
-Vá
queixar-se ao Bispo.
Embora
ninguém, soubesse exatamente qual Bispo, tantos que haviam na Uberblindia.
Depois do
negócio patriota em Boston, venderam os
supositórios para o Paraguai que os revendeu para as Ilhas Maurício,
considerando que todo mauricinho é chegado num supositório. Sem contar que eu duvido
que a maioria de nós saiba onde ficam as tais Ilhas Maurício, não fosse o fato
de que de quatro em quatro anos, nas Olimpíadas, dois babacas aparecessem
carregando a bandeira daquela josta.
E ainda
haviam as acusações infundadas contra ele, em tribunais internacionais
naturalmente, já que o último tribunal da Uberlíndia havia fechado e virara um
food truck de cachorros quentes. O Mundo acusava-o de ter ganhado quatro mansões
em áreas ambientais em troca da elevação do gabarito de construção em áreas históricas
para 140 andares, feito em comum acordo com a construtora Obrigado Amigo Sogro.
Impossível
fazer qualquer negócio honesto na Uberlíndia. Certa feita aguardou por um mês
um carregamento de cocaína para uso fármaco familiar, e quando afinal recebeu a
encomenda foi uma desonestidade: apenas quilos e mais quilos de pó Royal. A
concorrência no Parlamento era desleal, era chute, cavalhada, porrada no saco,
puxão de cabelo, o diabo a quatro para ver quem conseguia apropriar-se mais e
mais do Tesouro Nacional.
Era desleal:
até dedo no rabo acontecia nas sessões parlamentares.
A Uberlindia
chegara a tal ponto de decadência, desorganização e desvalorização que por
absurdo que pareça, lá o crime não compensa.
Uma delação já não oferecia mais nenhum prêmio, haja à vista que todo mundo
delatava todo mundo, a caguetagem virara valor nacional, ou seja: não valia porra nenhuma, já que a Uberlindia não tinha o menor valor.
Pois naquele
dia, pensando com seus botões, completamente desiludido com a Uberlindia, o
nobre parlamentar decidiu: havia ouvido falar de um lugar onde tudo funcionava
a como ele sonhava. Só havia, portanto, um jeito para ele exercer a sua vocação
com plenitude: abandonar a Uberlíndia e ir morar nesse tal lugar que
chamavam...Brasil!
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