01 maio 2018

Adeus Uberlíndia







A Uberlíndia era um País absurdo, sem solução, pensava o parlamentar com seus botões, e seus botões não era os da sua camisa de seda pura, mas sim seus dois assessores parlamentares: João Botão e Zé Botão. Dois dedicados representantes do lumpesinato religioso e que religiosamente serviam ao parlamentar Zé Canguinha, eleito com três milhões de votos, praticamente toda a massa trabalhadora da Uberlíndia: dois milhões, novecentos e noventa e nove mil, novecentos e noventa e sete motoristas de Uber e três de Cabify.

Não era séria a Uberlíndia.

Ele havia combinado com um lobista que receberia duzentos milhões de Silvérios (Silvério era a moeda de troca da Uberlíndia) desde que ele votasse pelo fim completo das riquezas minerais daquele rincão, outrora respeitado pelo Mundo e agora reduzido a mero  exportador de estrume para a Somália. Ele votou, o lobista pegou o dinheiro com a mineradora Humboldt and Merckz com sede em Yowa nos Estados Unidos e desapareceu. Soube-se que fora visto tomando sorvete Dagen Haas numa ilha do Caribe. Não era séria.
De outra feita quando o parlamentar era o Ministro da Doença, a Uberlindia tomara-se exemplo Mundial no combate a saúde, só restaram as doenças. As mais ricas, raras e variadas: tuberculose, chicungunha, dengue, baiancu (este importado do Cabukistão), a febre amarela que voltou aclamada pelo público, a febre verde amarela, uma epidemia de coxinhas, e dizem até que em breve seria ressuscitada por lá, a varíola. O esforço do Ministério da Doença para isso era imenso, e com mais uma granazinha aqui, uma propinazinha ali, o surgimento da peste era mais que certo.

Pois não era séria a Uberlíndia: um carregamento de remédios para crianças com necessidades especiais fora combinado que seria desviado para Boston a serem revendidos em valiosos dólares revertidos para os embornais do parlamentar. Os containers que chegassem ao Aeroporto Internacional da Uberlindia, - Aeroporto Covil dos Ratos – deveriam conter apenas supositórios de glicerina. Os ciosos despachantes haviam despachado realmente parta Boston os remédios especiais, ficaram com toda a rana e disseram ao parlamentar:

- Não está satisfeito vá queixar-se ao Bispo.
Esta era a frase mais comum na Uberlíndia:
-Vá queixar-se ao Bispo.

Embora ninguém, soubesse exatamente qual Bispo, tantos que haviam na Uberblindia.
Depois do negócio patriota em Boston,  venderam os supositórios para o Paraguai que os revendeu para as Ilhas Maurício, considerando que todo mauricinho é chegado num supositório. Sem contar que eu duvido que a maioria de nós saiba onde ficam as tais Ilhas Maurício, não fosse o fato de que de quatro em quatro anos, nas Olimpíadas, dois babacas aparecessem carregando a bandeira daquela josta.

E ainda haviam as acusações infundadas contra ele, em tribunais internacionais naturalmente, já que o último tribunal da Uberlíndia havia fechado e virara um food truck de cachorros quentes. O Mundo acusava-o de ter ganhado quatro mansões em áreas ambientais em troca da elevação do gabarito de construção em áreas históricas para 140 andares, feito em comum acordo com a construtora Obrigado Amigo Sogro.
Impossível fazer qualquer negócio honesto na Uberlíndia. Certa feita aguardou por um mês um carregamento de cocaína para uso fármaco familiar, e quando afinal recebeu a encomenda foi uma desonestidade: apenas quilos e mais quilos de pó Royal. A concorrência no Parlamento era desleal, era chute, cavalhada, porrada no saco, puxão de cabelo, o diabo a quatro para ver quem conseguia apropriar-se mais e mais do Tesouro Nacional.

Era desleal: até dedo no rabo acontecia nas sessões parlamentares.

A Uberlindia chegara a tal ponto de decadência, desorganização e desvalorização que por absurdo que pareça,  lá o crime não compensa. Uma delação já não oferecia mais nenhum prêmio, haja à vista que todo mundo delatava todo mundo, a caguetagem virara valor nacional,  ou seja: não valia porra nenhuma,  já que a Uberlindia não tinha o menor valor.

Pois naquele dia, pensando com seus botões, completamente desiludido com a Uberlindia, o nobre parlamentar decidiu: havia ouvido falar de um lugar onde tudo funcionava a como ele sonhava. Só havia, portanto, um jeito para ele exercer a sua vocação com plenitude: abandonar a Uberlíndia e ir morar nesse tal lugar que chamavam...Brasil!

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