Naquele dia Adolfo, o Mito,
também conhecido como Adolfinho Zero
Zero, ele gostava de numerar as pessoas, ele era o Zero Zero, seus filhos os números
1, 2 e 3 . A única filha não era numerada pois não podia ser quantificada. Numa
palestra na Associação dos Cortadores de Grama de Elói mendes, em Minas Gerais
ele dissera que mulheres valiam menos que um molho de brócolis, e fora muito
aplaudido.
Adolfo teve conhecimento da
Intervenção Militar no Rio de Janeiro.
E indignou-se, vale dizer que ele não era
homem de se indignar com qualquer
coisinha como direitos humanos, uma atendente de telefonia celular, ou um escorpião numa lata de coca cola.
Na mesma hora que soube da notícia
para surpresa geral Adolfinho proclamou que era contra a intervenção.
Oh, um ohhh prolongado oooooohhh
ouviu-se por toda a nação. Logo ele era contra a intervenção militar já?
O motivo era lógico, o feito tirava
dele o protagonismo de ser o herói que montado numa metralhadora, na passarela
da Rocinha e aplaudido por um milhar de especuladores do dinheiro alheio iria
disparar sobre os trezentos mil moradores pondo fim junto com eles à
bandidagem. Sua fórmula era perfeita: panfletos dando um prazo e depois, a
metralha.
E agora vinha este general atrapalhar
seus planos, tirar dele a gloria de
acabar com os bandidos pés de chinelo do Rio de Janeiro.
E isto logo naquele dia que Adolfo acordara
de péssimo humor, o que aliás era comum no seu cotidiano depois que sua mãe
fora atropelada e morta por um avião
Constelation da Panair do Brasil ao
atravessar a Rua Domingos Ferreira, no Leblon.
O avião, descontrolado desde a
falência da empresa ficava à espreita atrás de bancas de jornais e hidrantes, à
espera de senhorinhas míopes e mancas. Agenitora de Adolfo possuía estas duas qualidades
era míope e manca.
Preso em flagrante por um meganha que
na hora de folga estava dirigindo um UBER o avião declarou no Tuiter – o depoimento foi dado no
tuiter porque o governo não tinha verbas para papeis – o avião confessou que
seu prazer era atropelar senhorinhas do Leblon numa vingança contra as novelas
de Manoel Carlos que ele detestava desde que era criança, quando ainda era um
DC3 da Real Aerovias. Ainda assim há controvérsias.
Mas o assunto é Adolfo, o Garnizé de
Realengo, não confundir com o Galinho de Quintino.
Irritado com a Intervenção que lhe
tirava o brilho, sua raiva hedionda transformou-se em gula, uma gula ansiosa
que o levou a comer 12 pratos de de
ravióli frios no Sporreto. O ravióli era sua paixão. ele dizia que o ravióli do
sporreto ficava melhor depois de frio. A
massa pesou e ele foi fotografado dormindo de boca aberta no trabalho. Dormiu e
sonhou, um sonho épico que virou
pesadelo. No sonho ele era o Imperador da Uberlíndia. Coroa na cabeça, faixa ao
peito, uniforme de Napoleão, Mas quando
no sonho se preparava para apertar o
gatilho da metralhadora os comunitários, de cima da criminosa colina jogavam merda
fresca sobre ele. Quilos e quilos de merda, toneladas, enquanto gritavam: seu
filho de uma mula manca.
Acordou com uma azia imensa, e cheio
de gases, eram tantos gases que pensou em reinventar o zeppelin.
Amaldiçoou a Intervenção, dizendo que
era coisa de comunistas fabianos, e o que o irritou mais no sonho não foi a
merda, ele já estava acostumado , era a sua essencia, mas chamarem sua pobre
mãezinha, vítima de atropelo aéreo urbano, de mula manca foi o que mais o incomodou.
Foi pra casa mas não conseguia dormir
só depois que pegou sua 45 desceu na
portaria do prédio e disparou 6 tiros na cara do porteiro Waldir aos berros de
: Morre nordestino filho da puta, todo nordestino vota em Lula. Morre comunista
mossoroense. O rapaz nem era de Mossoró, era de Currais Novos, mas isso não vem
ao caso, já que para ele todo nordestino era sempre culpado.
Ele passara a ter este conceito desde
que quando ainda soldado, tirando serviço na madrugada em Curitiba,no meio da
bruma excitante, viu-se atraído
sexualmente por Rosenildo Araújo, também conhecido como Sariguê, o Gambá, do Sertão,
nordestino de Sobral, eleitor de Ciro Gomes e gay
assumido. Rosenildo, um metro e 62 , calvo, peito cabeludo, pernas arqueadas,
com um leve odor de bode no cio, ocupou de imediato o lugar da sua paixão por
raviolis frios. Paixão na hora. Mas Rosenildo Sariguê era volúvel e após o ato o abandonou trocando-o pelo
pastor alemão Marco Feliniano.
O Dr.
Luiz Effelberg Alfredo, psicanalista da linha Central- Santa Cruz explicou o sucedido: paixão recolhida que na
andropausa transformou-se em homofobia, e o tornara também nordestefóbico com a
paranoia focada na erva santa de Joazeiro. Quem sabe o Santo Daime... disse
ainda o psicanalista antes de levar uma azeitona no meio da testa.
Mas nada adiantou para melhorar o dia
de Adolfinho. Continuava de péssimo humor, resmungando nomes estranhos de mulheres à revelia: Jandira, Manuela, Gleisi, Olga Benario, foi quando numa esquina encontrou sua vizinha
Maria Bispo do Rosário, aí ele aliviou sua raiva: Só não te estupro porque você
é muito feia!
E saiu correndo gargalhando histérico
pelas ruas até o consultório do seu
médico, o Dr. Calighari, que havia sido médico de Mussolini, Hitler, e do General Eisenhower, e agora responsável
pelo desentupimento do pinto do Vampiro da Tuiuti.
O Dr Calighari deu-lhe umas pílulas
de vida do Dr Ross para acalmar seus nervos e seus intestinos que exalavam os
resultados de 12 pratos de raviólis frios.
O Dr disse-lhe enquanto cortava
diligente a unha do dedão do pé esquerdo:
- Já vi muitos exércitos, muitas
manobras militares, não se aborreça com isso não, deixa isso pra lá. Isso é só
uma gambiarra, vai dar em nada. Lembre-se dos Dardanellos.
Adolfo pensava que dardanellos era um
tipo de chocolate recheado.
- Desiste desse negócio de ser Salvador
da Pátria e parta em busca da sua felicidade , do seu eu interior.
Vale dizer
que Calighari depois de tentar ser condutor do metrô de São Paulo tornara-se discípulo de Prem Baba.
- Alegria! Parta agora mesmo numa van
da linha Moema Vale das Pedrinhas, diga ao condutor a senha: Miriam Makeba, se
nõ colar tente a senha Jean Willys, e vá em busca de sua grande paixão: Rosenildo
Araujo, o sariguê do sertão.
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