(Texto de Tomás Rezende, ator, diretor de teatro tv e cinema)
Vivemos numa sociedade arcaica, patriarcal e egoica.
Vivemos tempos de extremo cinismo.
O Cunha é o nome do personagem neste episódio. O personagem é sempre o mesmo: é um débil mental.
Precisamos ter um débil mental no poder para poder nos sentir vítimas, para poder culpar alguém e poder omitir nossa responsabilidade em relação a muitas coisas.
É um terror e é confortável ao mesmo tempo ter o Cunha no poder. Podemos ficar indignados. Podemos sentir que expressando nossa indignação estamos fazendo algo. Alimentamos nosso cinismo neste movimento de indignação que grita e não assume total responsabilidade.
Cunha uma pessoa arcaica, uma figura que ainda usa a imagem de um Deus vingativo para manipular milhões de pessoas.
Um homem que manipula a oposição e o governo pois tem informações de ambos os lados.
Eu posso me indignar com a perversão de um débil mental no poder. Mas no fundo ele é um espelho da minha perversão e incapacidade de assumir responsabilidade pelas minhas escolhas.
Ele é o espelho de uma sociedade incapaz de assumir responsabilidade.
Uma sociedade patriarcal que ainda culpa o pai por suas mazelas.
Tomás Rezende
O papel de cunha caiu muito bem no cunha, talvez secretamente gostaríamos de estar ali, vestindo aquele papel, mas só brincando de ser. Quem sabe desempenhando até melhor o terrível, o bufão, o canastra e o canalha no melhor espetáculo de nossas vidas. Depois voltar para casa com ar vitorioso de convencer a plateia que ser aquilo tudo na vida real é muito vergonhoso.
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