Meu pai não
dirigia. Em compensação contratava sempre um taxista – talvez o único de Faria Lemos (MG) para viajarmos pela região.
Era um
terror para mim. Tratava-se de um Ford, o chamado Ford Bigode fabricado por
volta de 1927/1930. Capota de lona,
janelas cortinadas, e bancos de couro.
Para
arrancar o carro necessitava girar uma manivela à frente do motor, aí
dava-se o arranque e podíamos seguir viagem.
As rodas
eram muito frágeis e havia sempre correntes para elas nos tempos de chuvas. As
estradas viravam lamaçais que provocavam atoleiros e então colocava-se estas
correntes nas rodas que impediam o carro de atolar. E quando ainda assim
atolava ficávamos hora esperando o carro de bois da fazenda mais próxima para
tirar o fordeco do mingau marrom onde estava afundando.
Mas duas
coisas me enjoavam muito no carro: a
nuca do motorista – Chico Volante era chamado -
que eu no banco de trás via sacolejar por todo o trajeto. Ele era um
tipo avermelhado, e tinha tido varíola, então sua nuca além de uma cor estranha
para mim tinha muitos buracos. Aquilo aliado ao cheiro do couro dos assentos e
ao cheiro oleoso da lona e ainda somado ao cheiro desagradável do capim melado
da beira das estradas era meu terror, um enjoo que me revirava as entranhas.
O que era
pra ser uma viagem agradável, um passeio pelos campos era “une saison a l’enfer”
( “Uma temporada no Inferno”) parodiando Rimbaud.
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