Após a saída de Prestes do PCB, do fim da URSS, do fim da moda de Gramsci dentro do Partidão e do caminho direitista que tomou o PCI, o PCB veio parar nas mãos de Roberto Freire.
Ainda militavam nele velhos comunistas que haviam dado sua vida pelo Partido e pelos ideais socialistas.
De seis deputados federais eleitos na primeira eleição democrática, caiu o Partido para três na segunda eleição.
Numa reunião na casa de Zelito Viana, o cineasta, com artistas, Freire nos disse:
"- Nós crescemos muito nestas eleições."
E eu: "Nós quem cara-pálida?"
Foi o bastante para que seu autoritarismo e vaidade me desancassem e ele passasse anos sem me dirigir a palavra.
Militante do PCB desde 1963 participei do Congresso que mudou o nome de PCB para PPS, em Brasília, Mas não me filiei.
Vim a filiar-me quando o PPS apoiou o PT e Lula.Por coerência ideológica desfiliei-me depois.
Apoio do PPS que pouco durou, quando Lula, uma vez eleito teria escolhido como interlocutor do Partido Popular Socialista a Ciro Gomes e não a Freire. Foi demais para a vaidade e controle do pernambucano, parlamentar com base em Olinda.
Rompeu com Lula, e alijou Ciro do PPS.
Sem base de apoio para viabillizar sua legenda, colocou-a a serviço de si mesmo, e foi inflando o Partido com quadros dos mais variados, sem preocupação ideológica ou de caráter.
Herdamos até deputado federal que nem o PMDB queria mais.
Foi mudando a qualidade dos quadros do Partido. Os velhos companheiros morrendo, afastando-se, e ele botando pra dentro do PPS gente de centro esquerda , até mesmo de direita, ou sem nenhuma ideologia ou compromisso com as lutas do velho PCB.
Para justificar isto apoiou-se na teoria do fim da luta de classes; do fim da história; do fim do socialismo; do fim de esquerda e direita, e na tal revolução cibernética.
Tudo sob sua batuta. Era uma forma de instrumentalizar a legenda em benefício próprio da sua carreira profissional de Parlamentar.
Enquanto perdia sua história e sua base eleitoral, tendo sido incapaz até mesmo de eleger seu filho como vereador no Recife, só lhe restava buscar os caminhos possíveis, e a Direita estava ali pertinho.
Com um partido fisiológico e dócil a seu comando de coronel nordestino, com a identidade partidária - herdeira de longas e vitoriosas lutas dos trabalhadores brasileiros - despersonalizada, só lhe restou o caminho da decadência, transformando o PPS quase numa legenda de aluguel.
Auxiliado pela divisão das capitanias eleitorais do PSDB de SP elegeu-se Deputado Federal por lá. Às custas de ter por líder o tal governador da Opus Dei e do cilício.
Agora para sobreviver, rejeitado até pelo pequeno mas digno PMN busca a candidatura vampiresca de José Serra para a Presidência.
Precisa desesperadamente reeleger-se, ter uma bancada que lhe dê privilégios e benefícios, afinal ser político é sua carreira profissional, não importa o viés ideológico.
Nas décadas de 50/60 Carlos Lacerda, da UDN, ganhou o apelido de "Carreirista da Traição", curiosamente por ter traído o Partido Comunista depois de ter sido a ele filiado.
A história se repete agora, como farsa.
Triste figura.
Bom artigo Bemvindo, eu não conhecia muito essa história, sabia um pouco mas o suficiente para entender que esse cara é um direitista e levou o PPS para a destruição como partido de esquerda.
ResponderExcluirMuito bom, parabéns pela sua sinceridade, coisa rara hoje em dia!
Belo artigo realmente, Esclareceu muito sobre a trajetória desde indivíduo que já teve meu respeito, mas que se revelou um dos maiores embustes da política brasileira.
ResponderExcluirÓtima matéria. Retrata ao mesmo tempo a tristeza do traidor, e sua coerência. Grande Bemvindo.
ResponderExcluirFalta explicar como um indivíduo sozinho pode levar avante esse projeto. Como se comportaram os comunistas históricos e como foram derrotados?
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