24 fevereiro 2013

FINAL : "ARTISTAS VÃO PARA A DIREITA?

                                                   "Que saudades da Amélia"... e de Mário Lago.


Hoje é  a terceira e última postagem deste tópico. Por isto mesmo um pouco mais longa. Me perdoem.

Hoje. Passados quase trinta anos do fim da Ditadura Militar os artistas seguem seus caminhos ideológicos.
Podem fazer suas escolhas sem serem empurrados para um único segmento por um excessivo regime militar.
Quando vejo humoristas, cantores, artistas , com posições antiprogressistas, reacionárias, entreguistas mesmo, não deveria escandalizar-me.
A Democracia pela qual lutamos permite  a livre expressão ideológica.
Permite que cada um faça suas escolhas de acordo com sua consciência e conveniência.

Vivemos tantos anos sob Ditadura que nos esquecemos como era antes. Desde 64 já se vão 49 anos.
Havia a diversidade ideológica. Chegava-se a contendas nas ruas entre ideologias opostas.
Nós jovens identificávamos a ideologia do sujeito no banco da frente pelo jornal que ele trazia nas mãos: "Ùltima Hora" ou "O Globo".

Saúdo a memória de lutadores históricos pelas causas populares como Jorge Goulart, Nora Ney, Jackson do Pandeiro, Mário Lago, Jararaca, Modesto de Souza,  Francisco Millani,  o Palhaço Fred, Tayguara, Raphael de Carvalho, Lélia Abramo, Vanda Lacerda e tantos outros.

Mas nunca foram unanimidade.  Havia também  os artistas que se opunham às conquistas populares. Seriam mais tarde os dedo-duros da categoria, como o famoso apresentador da Rádio Nacional que entregou todos os colegas de esquerda à sanha da Ditadura.

Havia os colegas de antanho que trabalhavam por romantismo; por amor à arte morriam tuberculosos; moravam em cortiços na rua da Carioca e adjacências da Praça Tiradentes.
Ser artista era ser "gauche" na vida.

No mundo neoliberal de hoje, para alguns  ser artista é ter a mesma visão de carreira que a de um executivo de Multinacional.

Vale tudo pela carreira, pelo dinheiro, pelo poder e pela fama.
Vale ficar calado; vale não se comprometer nem com política, nem com religião, nem mesmo com time de futebol, sequer se pronunciar sobre recheio de pastel.
Vale calar-se diante das injustiças cometidas, e vale sobretudo louvar o dinheiro, numa idolatria que leva a carne aos ceús e a alma aos infernos.

Assim como muitos são os chamados e poucos os escolhidos, não se enganem: ser de esquerda, tomar o lado dos excluídos, dos sem-nome, é profissão de fé.

Fé pertence aos loucos. Àqueles que creem no que não se vê, e em fatos que ainda não aconteceram.
Loucos os artistas que acreditam que pode ser o Homem um parceiro para o Homem, num mundo de igualdade, fraternidade e liberdade, onde não haja fome, injustiças, exploração,miséria...

Loucos sim...Mas Deus criou os loucos para envergonhar os sábios.
E só os loucos sabem as tribulações que passam, e entretanto prosseguem porque de que adianta a um artista ganhar bens e perder o Bem?

Encerro dirigindo-me  aos colegas satisfeitos com a "lucidez e a razão" e  com o Sistema que lhes dá a migalha de cada dia, relembrando Bivar quando perguntou: "Por que seria  a loucura mais sã que a falta dela?"

Há colegas em campos opostos. A esquerda jamais foi unanimidade entre a categoria... e esta reflete a Sociedade como um todo.

Respeitando e compreendendo a diversidade ideológica conquistada por todos nós com a Democracia, saúdo os loucos com os quais caminho lado a lado nesta jornada e abro meus braços para o abraço.

Um abraço onde neste ano de 2013 comemoro com muito orgulho 50 anos de luta  numa loucura que me mantém vivo: a fé por um Mundo liberto da exploração do homem pelo homem.

4 comentários:

  1. Belíssimo texto. Emocionante. Parabéns.

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  2. Faz tempo que não vejo, uma postagem tão inteligente e livre de perseguições ideológicas, parabéns a quem fez essa postagem, numa linguagem linda, simples, e principalmente usando muito a palavra fé, adorei essa matéria, que todas possam ser desse nível em outros blogs.

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  3. Excelente exposição, viver é tomar partido, posição ou fazer uma opção, seja por uma cor ou clube de futebol. desconfio de quem "gosta de tudo" e se contenta com muita facilidade.

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